No próximo domingo, dia 12 de maio, celebramos o centenário de nascimento de Sua Excelência Reverendíssima DOM OTHON MOTTA, terceiro Bispo da Diocese da Campanha.

Os meus leitores devem estar se questionando porque eu, padre, bispo e arcebispo de Juiz de Fora estou recordando o centenário de um bispo nascido no Rio de Janeiro e que viveu a maior parte de sua vida na cidade sul mineira da Campanha? Porque a vida de Dom Othon Motta está ligadíssima a minha trajetória vocacional e, também, a nossa Igreja Metropolitana de Juiz de Fora. Em 10 de março de 1953 Dom Othon foi nomeado Bispo Auxiliar de Dom Justino José de Santana, primeiro Bispo da Diocese de Juiz de Fora. Dom Othon foi sagrado bispo em 24 de maio de 1953 e logo iniciou o seu trabalho pastoral em nossa Arquidiocese, como "baculus senectude" de Dom Justino. Era muito estimado por todo o clero e, particularmente, pelos seminaristas e pelos fiéis. Tinha fama de santidade e era muito afável e acessível a todos os que a ele acorriam. Tive a felicidade de conhecê-lo no Rio de Janeiro, quando no Seminário São José de lá estive, e foi meu Diretor Espiritual. Homem simples, humilde, fraterno e paterno, procurando nos ajudar realmente na caminhada vocacional, colocando como modelo o Jesus de Nazaré. Como Bispo Auxiliar em Juiz de Fora, continuei me orientando por ele e dou muitas graças a Deus por ter tido esta oportunidade. Viveu em nosso meio até 1955, quando foi transferido para Bispo Auxiliar do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.

Em 30 de maio de 1959 Dom Othon foi designado para Bispo Coadjutor de Dom Frei Innocêncio Engelke, OFM, Bispo da Campanha. Mais uma coincidência que une Campanha a Juiz de Fora: Dom Justino e Dom Inocêncio foram nomeados bispos simultaneamente no mesmo ano, sendo que eram muito amigos. Dom Othon foi um pai para o presbitério da Campanha, e disto somos testemunhas porque todos nós, seminaristas da Campanha e de Juiz de Fora éramos alunos do Seminário Maior São José, em Mariana, quando louvávamos a Deus pela bondade e compaixão de Dom Othon.

Dom Othon era extremamente humano e bom. Amou o povo do Sul de Minas e, como padre conciliar, tendo participado de todas as sessões do Concílio Ecumênico Vaticano II, aplicou as reformas conciliares na Diocese da Campanha.

Dom Othon foi bispo coadjutor por 1 ano, bispo diocesano por vinte e quatro anos e bispo emérito por 1 ano, com a posse canônica de Dom Tarcísio Ariovaldo do Amaral, CSsR, para seu sucessor depois que se agravou a sua doença de Parkinson e ele já tinha contado com a generosa colaboração de Dom Antônio Affonso de Miranda, sdn, que foi seu bispo coadjutor e fora transferido para Taubaté e de Dom José D'Ângelo Neto, Arcebispo Metropolitano de Pouso Alegre e Administrador Apostólico da Campanha.

Dom Othon tinha como lema episcopal a divisa: "In vinculis caritatis", ou seja, "nos vínculos da caridade", que ele viveu intensamente em sua vida de padre, iniciada no Rio de Janeiro, e de bispo, que doou a sua vida pelas Igrejas de Juiz de Fora, do Rio de Janeiro e da Campanha.

Após os sofrimentos próprios da sua longa doença Deus chamou a si o seu servo bom e fiel, Dom Othon, em 04 de janeiro de 1985, sendo que ele foi sepultado na cripta da Catedral de Santo Antônio da Campanha.

Ao celebrarmos o centenário de Dom Othon Motta queremos lembrar que o bispo deve ser o ministro da caridade. O bispo não pode ser o ditador, o dono da verdade, aquele que quer oprimir para aparecer ou para ser o melhor, aquele que "quer estar por cima da onda e de todas as pessoas", aquele que edita o jornal só "para aparecer na fita como o melhor". São de bispos como Dom Othon que a Igreja precisa nos dias de hoje: de bons pastores e não de generais inquisidores, que vivem em palácios longe do povo. Dom Othon viveu intensamente o bom odor de suas ovelhas que ele as pastoreou e as chamou pelo nome. Dom Othon trouxe, pela caridade e pela brandura, as ovelhas perdidas para o redil de Cristo. Dom Othon viveu uma santidade silenciosa e não uma fé que busca cura de milagres e doenças. Ao contrário Dom Othon abraçou a sua penosa doença e a ofereceu em favor dos seus, que nos vínculos do amor e da caridade, ele santificou de seu calvário. Descanse em paz e interceda por nós bondoso Bispo, porque a Igreja precisa é de exemplos de misericórdia como nos ensina o Papa Francisco!

+ Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG).