A leitura orante nada mais é do que a maneira como gerações e gerações de judeus e cristãos leram as Sagradas Escrituras, procurando nelas uma palavra do Deus vivo para a sua vida, em cada momento de sua história pessoal, comunitária e social.

Trata-se de uma leitura feita em clima de diálogo com o Senhor, em clima de oração, prestando atenção tanto no texto bíblico, quanto à realidade atual. O lugar privilegiado deste diálogo com o Deus vivo é a comunidade reunida em assembleia litúrgica (liturgia da Palavra). Mas pode ser preparado e prolongado com a leitura individual.

A leitura orante não é possível sem a orientação do Espírito Santo. Por isso, invocamos sua ajuda, antes de começar a leitura. E nunca nos esquecemos que, no centro de toda a nossa compreensão, seja da Bíblia, seja da realidade atual, está Jesus Cristo. Ele é o caminho, a verdade e a vida.

Depois de muitos séculos de esquecimento, as comunidades agora estão redescobrindo o valor e a importância do método da leitura orante. O Concílio Vaticano II o recomendou (Dei Verbun, 25), os monges e monjas o retomaram com mais força, e a Igreja dos pobres no Brasil tem boa parte de caminho andado na leitura popular da Bíblia. Recentemente a CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil) propôs um aprofundamento, uma atualização e retomada do método (coleção Tua Palavra é vida).

 

Os quatro "passos" da leitura orante

Antes da leitura, é importante a gente se recolher, pedir humildemente a ajuda do Espírito Santo. A leitura orante supõe participação na comunidade e nos trabalhos (missão) que ela faz dentro e fora da Igreja.

 

1.º passo: LER

Ø  Ler e reler o texto, baixinho e em voz alta, escutar o texto (alguém está falando).

Ø  Prestar atenção a cada palavra, às ideias, às imagens, ao ritmo, à melodia...

Ø  Tentar entender o texto (no contexto em que foi escrito).

Ø  Se for possível, recorrer também a um bom comentário de um biblista.

 

2.º passo: MEDITAR

Ø  Repetir o texto (ou parte dele) com a boca, a mente e o coração; Mao "engolir" logo o texto e, sim, "mastigar", "ruminar", tirando delo todo o seu sabor; não ficar só com as ideias que contém, mas deixar as próprias palavras mostrarem a sua força; aprender de cor (= de coração!) pelo menos uma parte do texto.

Ø  Penetrar dentro do texto, interiorizá-lo, interpretá-lo a partir de nossa realidade; identificar-nos com ele: perceber como o texto expressa nossas próprias experiências, sentimentos e pensamentos. Principalmente no caso dos salmos, estas experiências podem ser entendidas também como se referindo a Jesus, o Cristo.

Trata-se de atualizar o texto: perceber como o texto acontece hoje, em nossa realidade pessoal, comunitária e social; perceber qual a palavra que o Senhor poderá estar nos dizendo...

 

3.º passo: ORAR

Ø  Deixar brotar de dentro do coração, tocado pela Palavra, uma resposta ao Senhor. Dependendo da leitura e da meditação feitas, poderá ser uma resposta de admiração, louvor, agradecimento, pedido de perdão, compromisso, clamor, pedido, intercessão...

 

4.º passo: contemplar

Ø  A Bíblia não usa o verbo contemplar, e, sim, escutar, conhecer, ver. Trata-se de saborear, "curtir" a presença de Deus, o jeito de ele ser e agir, o quanto ele é bom e o quanto faz para nós. Supõe uma entrega total na fé. Passa necessariamente pelo conhecimento de Jesus Cristo ("Quem me vê, vê o Pai"), que se encontra do lado dos pobres.

 

Na liturgia, durante o canto de um salmo ou um hino, estes quatro passos acontecem praticamente ao mesmo tempo. Os dois primeiros dependem mais da nossa vontade, de nossa atenção; os dois últimos dependem mais da graça de Deus, do Espírito Santo, que trabalha em nós.
Assim diz Guido, o cartuxo:

۰"A leitura procura, a meditação encontra;a oração pede, a contemplação experimenta".

."A leitura leva o alimento à boca,a meditação mastiga e tritura;a oração saboreia, a contemplação é a própria doçura que alegra e refaz a gente"

."A leitura fica na casca,a meditação penetra na polpa; a oração procura, cheia de desejo,

a contemplação goza da doçura conseguida".

 

Assim diz a Ilustração Geral sobre a Liturgia das Horas:

"... quem salmodia sabiamente, percorre com a meditação verso por verso, sempre preparado em seu coração para responder, como requer o Espírito que inspirou o salmista e moverá também os devotos preparados para receber sua graça. Por isso, a salmodia (...) deve-se desenvolver com gozo da alma e com doçura da caridade, tal como corresponde à poesia sagrada e ao canto divino e mais ainda à liberdade dos filhos de Deus" (104).

 

"... quem salmodia não o faz tanto em seu próprio nome, mas em nome de todo o corpo de Cristo, e ainda na pessoa do próprio Cristo" (108)