Retirado do jornal "O Estado de São Paulo" de domingo, 16 de março de 1997.

NA GRANDE ÁREA

Armando Nogueira

Uma foto de doer

A foto do encontro Romário-Cafezinho é um constrangimento. A reconciliação foi tramada pelo Flamengo, pensando atenuar a sorte de Romário no julgamento do Tribunal esportivo. Por sinal, o tribunal acabou absolvendo o craque: uma grande pândega. O craque, mau ator, não queria conversa com Cafezinho. Estava ali, obrigado. A foto revela o mal-estar de Romário. Pior ainda: revela um imperial arde soberba. Quem olha com soberba não olha, sobreolha. Está na cara que o príncipe não perdoou o súdito. E, no entanto, poderiam estar ali, se abraçando, dois companheiros de ofício, duas criaturas humanas um momento desabonador prós dois. Arroubos do futebol. Mas nada tão sério que não pudesse ser consertado num bom aperto de mão.

Não tenho intimidade com Romário. Privo, porém, da sua obra, que, por sinal, me empolga e pela qual sou agradecido a ele. Se eu fosse amigo do Romário eu não deixaria de lhe dizer que ele perdeu uma boa chance de exercitar um dos mais belos sentimentos da criatura humana, que é a humildade.

A humildade é a santa virtude do homem que sabe que não é Deus.