SANCTORUM ALTRIX
Por ocasião do sesquimilenário do nascimento de São Bento, Abade, Patrono da Europa

Em tempos do Papa Bento XVI, não podemos nos esquecer que o seu predecessor, de saudosíssima memória, o Servo de Deus João Paulo II, que mesmo sem tradições beneditinas mais profundas em sua formação pessoal, e isso ninguém pode de fato duvidar, nos legou algumas reflexões sobre o nosso pai espiritual, São Bento, abade, dantes escolhido por Paulo VI, que era beneditino de coração, Patrono da Europa, ao qual depois Sua Santidade, o Papa João Paulo II acrescentou os Santos irmãos Cirilo, monge e Metódio, bispo, verdadeiros apóstolos na Europa Oriental, acrescentando também mais tarde, três santas mulheres: Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), monja carmelita descalça, virgem e mártir, Santa Catarina de Sena, terciária dominicana, virgem e doutora da Igreja e Santa Brígida da Suécia, viúva, fundadora da Ordem do Santíssimo Salvador (vulgo de Santa Brígida).

No decurso do longevo pontificado de João Paulo II, até hoje menor somente que aquele do Apóstolo São Pedro e o do Bem-Aventurado Pio IX, celebramos os 1500 anos do nascimento de São Bento, tendo esse nos dado, naquela ocasião, no ano de 1980, a Carta Apostólica "Sanctorum altrix"; nessa carta ele nos recorda que a Igreja é geradora de santos, apresentando-nos como modelos a serem seguidos àqueles que buscaram imitar em suas vidas Aquele que por antonomásia é o Santo, o três vezes Santo!

São Bento, pai dos monges do Ocidente, deixando o mundo em seu desejo de agradar somente a Deus, pôs-se a escuta do Senhor, que estava a buscar o seu operário, tendo saído do mundo sabiamente indouto enveredou-se pelo caminho estreito que conduz à verdadeira vida; sentido-se atraído pelas realidades eternas, que são aquela que não passam e que não são, portanto, mero fruto do relativismo que hoje atinge muitos ambientes no mundo e, lamentavelmente, até mesmo alguns membros da nossa Mãe Igreja.

O Santo Padre nos recorda que a vida beneditina, não somente a dos monges e monjas, mas também daqueles que "procuram verdadeiramente a Deus" deve ser uma vida de busca plena de Deus, tendo como pilares que sustentam nessa missão de traseuntes, daqueles que estão constantemente em e a caminho: a oração, o trabalho e o exercício paterno da autoridade, mesmo nesse tempo em que esses valores não são bem percebidos por tantos ou são visto pela sociedade, simplesmente, como contra-valores. Numa sociedade sem ‘pais', devemos no exercício da autoridade, buscar "ser mais amados que temidos".

Se buscamos verdadeiramente a Deus, nada devemos antepor ao amor de Cristo, pois ele nos conduzirá juntos, à vida eterna. O Verbo se fez carne para que, assumindo a nossa humanidade pudéssemos, por meio dele, adentrarmos no profundo mistério da divindade; olhando agora as coisas do cotidiano com o olhar da fé, perseguindo com todo o ser a profunda coerência entre a fé e a vida, assim seremos como autênticos cristãos, outros cristos, no mundo. Desse modo, onde quer que estejamos e o que quer que façamos, tudo seja feito para a glória de Deus, pois em tudo, Ele deve ser glorificado. "O amor verdadeiro e absoluto a Cristo manifesta-se de modo significativo na oração; que é, por assim dizer, o eixo em torno do qual giram a convivência cotidiana e toda a vida beneditina". Essa oração não é feita na abundância de palavras, nela e na salmodia, "nossa mente deve concordar com a nossa voz".

O Papa nos recorda, embasado em São Bento que a oração e o trabalho restituem ao homem à sua integridade, e por que não, a sua própria dignidade? Pois "a lei do Espírito domina a lei da matéria", instalando-se desse modo uma ordem justa que terá como fruto a paz que tanto almejamos e que Cristo veio trazer, mas que os homens, sem nenhuma boa vontade, lamentavelmente ainda não quiseram sinceramente acolher.

Ao servo dos servos de Deus João Paulo II, cujo título de Magno, a história da humanidade não poderá negar, agradecemos, sobretudo, seu testemunho de santidade, vocação a que todos somos chamados, nessa Igreja, "geradora de santos".

D. Hugo da Silva Cavalcante, OSB