Estamos a viver o Tempo Litúrgico do Advento, com o qual somos conduzidos em verdadeira preparação pedagógica para celebrarmos com intensidade os mistérios do Natal do Senhor; desse modo, é necessário que nos deixemos transportar para Belém (a Casa do Pão), onde contemplaremos o "Deus-Menino", o "Deus-Conosco", que depois de ser um presente da infinita bondade de Deus para todos nós na manjedoura, no mistério da fragilidade e simplicidade de uma criança, em uma atitude de escondimento da sua realidade de pessoa divina, se fará presente, de modo permanente, no Pão e no Vinho, tornando-se alimento e bebida de salvação, em seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade que proclamamos ao mundo como o Pão da Vida e o Cálice da Salvação!
O termo Advento que quer dizer, propriamente, vinda, nos faz recordar, portanto, os três modos pelos quais o Senhor vem até nós:
No primeiro modo, que é o do ontem, celebramos a vinda histórica do Senhor, que São Paulo escrevendo aos Gálatas nos faz perceber o seu real sentido: "quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu filho, nascido de uma mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial". Em Cristo, filho unigênito do Pai, nos tornamos todos filhos e filhas e isso acontece de modo concreto quando somos regenerados pela graça, nas águas do Batismo, que é a porta de todos os sacramentos, pelo qual somos admitidos no seio da Igreja, que se torna nossa mãe. Deus se faz homem, na realidade, para que possamos participar mais plenamente da sua intimidade divina.
No segundo modo, que é o do amanhã, expectamos a vinda definitiva do Senhor que o Evangelista Mateus anuncia para nós com as seguintes palavras: "assim como o relâmpago parte do oriente e brilha até o poente, assim será a vinda do filho do Homem". O Senhor virá, certamente, em sua glória, julgando no amor aqueles a quem chamou para serem operários do seu reino; devemos, portanto estar preparados para a sua vinda definitiva buscando viver no cotidiano aquela vocação a que todos somos chamados que é a da vida em santidade, abraçando a sua vontade que é sempre de salvação, na fidelidade ao dever de estado.
No terceiro modo, que o do hoje, devemos perceber que o Senhor vem até nós por meio de três canais: o dos Sacramentos e, de modo especialíssimo através da Santíssima Eucaristia; Ele vem até nós na presença de cada irmão que acolhemos e percebemos que é ‘outro Cristo', pois como eu, ele é também filho e filha de Deus e vem também até nós por meio da sua Palavra que proclamada, quer se fazer vida na nossa vida.
Aliás, sobre a presença de Cristo por meio da Palavra, que é sempre atual, o Santo Padre, Bento XVI, tem fomentado entre os cristãos o retorno da prática da Lectio Divina, que é o método de debruçar-se na Palavra, fazendo a leitura (ruminando-a, tirando o seu sumo), meditando essa palavra, ela se tornará oração, e da oração seremos conduzidos à contemplação, e tudo isso exigirá de nós o silêncio da escuta e a capacidade de abertura para o diálogo com Deus.
No Advento é necessário que como a Virgem Santa Maria expectemos a vinda do Senhor, que quer ser gerado também em nós para que o testemunhemos diante daqueles que de nós se aproximam. Aliás, nos tempos modernos, não podemos nos esquecer de uma verdade que o autor da Epistola aos Hebreus nos ensina e que possamos parodiar, já que sendo ruído nos impedirá uma límpida comunicação com Deus: "Muitas vezes e de modos diversos falou Deus outrora, aos Pais pelos profetas, agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho..." busquemos então em nossas reuniões de pastoral, durante as celebrações da Santíssima Eucaristia ou quando sempre estivermos na casa de Deus, desligar os nossos telefones móveis, pois Deus, indubitavelmente, não falará a nós por meio deles!
Vem Senhor Jesus, Maranatáh!
D. Hugo da Silva Cavalcante, OSB
