Eu tive a grande graça de presenciar, bem de perto, sobretudo na Catedral de São Paulo, que vem chamada, de modo redundante, de Catedral da Sé, ao invés de Sé Catedral, a estada do sucessor de Pedro no meio de nós, quando veio realizar a abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho. Mais de um mês já se passou da sua estada e, sem dúvida, poucos puderam se aproximar mais de perto dele, entretanto, muito mais numerosa foi à multidão que não o pode ver de perto, mas que o pode ouvir, ouvindo-o com o ouvido do próprio coração. Meu intuito é recolher aqui, algo do que nos disse o Santo Padre a respeito da vida religiosa, para que do ouvido possa passar ao nosso coração e desse, à nossa vida. É importante que nos debrucemos sobre o que ele disse, pois são palavras de incentivo para que nos mantenhamos fiéis à vocação a que fomos chamados. A apresentação de tais textos seguirá a ordem cronológica em que foram proferidos.

Logo ao chegar ao Brasil, ainda no Aeroporto Internacional de Cumbica em Guarulhos - SP saudou "os religiosos e as religiosas... e os leigos comprometidos (digo eu, nossos oblatos também são parte dessa grei!) com a obra de evangelização da Igreja e com o testemunho de uma vida autenticamente cristã".

Quando esteve junto aos jovens no Estádio Municipal do Pacaembu assinalou a importância da vida religiosa no seio da Igreja: "por isso, abençôo e invoco a proteção divina a todos os religiosos que dentro da seara do Senhor se dedicam a Cristo e aos irmãos. As pessoas consagradas merecem, verdadeiramente, a gratidão da comunidade eclesial: monges e monjas, contemplativos e contemplativas, religiosos e religiosas dedicados às obras de apostolado, membros de institutos seculares e das sociedades de vida apostólica, eremitas e virgens consagradas" e citando a Instrução Partir de Cristo, nos faz recordar: "a sua existência dá testemunho do amor a Cristo quando eles se encaminham pelo seu seguimento, tal como este se propõe no Evangelho e, com íntima alegria, assumem o mesmo estilo de vida que Ele escolheu para Si".

Ao canonizar, no Campo de Marte, o primeiro brasileiro, um religioso-presbítero, recordou-nos: "como soam atuais para nós, que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as palavras que aparecem na Cédula de consagração da sua castidade: ‘tirai-me antes a vida que ofender o vosso bendito Filho, meu Senhor'".

Ao falar para os nossos Bispos na Sé Catedral de São Paulo assinala algumas das obras indispensáveis que os religiosos realizam: "a Igreja não pode senão manifestar alegria e apreço por tudo aquilo que os Religiosos vêm realizando mediante Universidades, escolas, hospitais e outras obras e instituições".

Na Fazenda da Esperança, no encontro com as monjas clarissas: "as irmãs Clarissas e outros religiosos de clausura - que, na vida contemplativa, perscrutam a grandeza de Deus e descobrem também a beleza das criaturas - podem, com o autor sagrado, contemplar o próprio Deus, embevecido, maravilhado diante de Sua obra, de Sua criatura amada: ‘Deus contemplou tudo o que tinha feito e eis que estava tudo muito bom!' (Gn 1,31).

No Santuário Nacional de Aparecida, ao encontrar-se, com um maior número de religiosos agradece: "vós, religiosos e religiosas, sois uma dádiva, um presente, um dom divino que a Igreja recebeu do seu Senhor. Agradeço a Deus a vossa vida e o testemunho que dais ao mundo de um amor fiel a Deus e aos irmãos. Esse amor sem reservas, total, definitivo, incondicional e apaixonado se expressa no silêncio, na contemplação, na oração e nas atividades mais diversas que realizais, em vossas famílias religiosas, em favor da humanidade e principalmente dos mais pobres e abandonados. Isso tudo suscita no coração dos jovens o desejo de seguir mais de perto e radicalmente o Cristo Senhor e oferecer a vida para testemunhar aos homens e mulheres do nosso tempo que Deus é Amor e que vale à pena deixar-se cativar e fascinar para dedicar-se exclusivamente a Ele (cf. Exortação Apostólica Vita Consecrata, 15). A vida religiosa no Brasil sempre foi marcante e teve um papel de destaque na obra da evangelização, desde os primórdios da colonização. Ontem ainda, tive a grande satisfação de presidir a Celebração Eucarística na qual foi canonizado Santo Antonio de Sant'Anna Galvão, presbítero e religioso franciscano, primeiro santo nascido no Brasil. Ao seu lado, um outro testemunho admirável de consagrada é Santa Paulina, fundadora das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Teria muitos outros exemplos para citar. Que todos eles vos sirvam de estímulo para viverdes uma consagração total. Deus vos abençoe!".

Ao abrir a V Conferência - A Conferência de Aparecida, reconheceu: "quero dirigir-me também aos religiosos, às religiosas e aos leigos e leigas consagrados. A sociedade latino-americana e caribenha tem necessidade do vosso testemunho: em um mundo que tantas vezes busca, sobretudo, o bem-estar, a riqueza e o prazer como finalidade da vida, e que exalta a liberdade prescindindo da verdade do homem criado por Deus, vocês são testemunhas de que existe outra forma de viver com sentido; lembrem aos vossos irmãos e irmãs que o Reino de Deus chegou; que a justiça e a verdade são possíveis se nos abrimos à presença amorosa de Deus nosso Pai, de Cristo nosso irmão e Senhor, do Espírito Santo nosso Consolador. Com generosidade e até ao heroísmo, continuai trabalhando para que na sociedade reine o amor, a justiça, a bondade, o serviço, a solidariedade conforme o carisma dos vossos fundadores. Abraçai com profunda alegria vossa consagração, que é instrumento de santificação para vocês e de redenção para vossos irmãos. A Igreja da América Latina vos agradece pelo grande trabalho que vindes realizando ao longo dos séculos pelo Evangelho de Cristo a favor de vossos irmãos, principalmente pelos mais pobres e marginalizados. Convido a todos para que colaborem sempre com os Bispos, trabalhando unidos a eles que são os responsáveis pela pastoral. Exorto-vos também a uma obediência sincera à autoridade da Igreja. Não tenham outro ideal que não seja a santidade conforme os ensinamentos de vossos fundadores".

Que essas exortações do Santo Padre nos ajudem a renovar, cada dia, o nosso compromisso com a consagração que chamados a viver, recebemos da Igreja, nossa mãe, a confirmação. Que o Espírito Santo nos ajude a renovar com o mesmo vigor e prontidão o amor primeiro que nos fez responder com todas as forças e convicção.

D. Hugo da Silva Cavalcante, OSB