No dia 12 de maio de 1996, e lá se vão mais de dez anos, tive a imensa alegria de poder participar da cerimônia de Beatificação do Cardeal Alfredo Idelfonso Schuster, que já fora Abade do Mosteiro de São Paulo fora dos muros, onde eu estava a habitar naquela ocasião, por motivo dos meus estudos; a memória litúrgica desse ilustre beneditino pode ser celebrada no dia 30 de agosto e, nesse ano, todas as nossas comunidades beneditinas receberam um fax do Mons. Elia Volpi, pároco de Nossa Senhora da Candelária na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, grande devoto do Beato, nos recordando a ocorrência de tal memória e nos incentivado a fazer conhecer pelo nosso país esse homem de Deus.

O purpurado beato era filho de um coronel da Guarda Suíça Pontifícia, tendo nascido na Cidade Eterna no dia 18 de janeiro de 1880 e entrando aos nove anos de idade na Abadia de São Paulo fora dos muros, professando seus primeiros votos em 13 de novembro de 1899, quando celebrávamos, então, a festa de Todos os Santos da nossa Ordem, sendo hoje apenas uma memória facultativa, estudando filosofia e sagrada teologia no Colégio de Santo Anselmo, que há pouco havia sido fundado pelo Santo Padre, o Papa Leão XIII.

No dia 19 de março de 1904 recebeu a ordenação presbiteral na Basílica de São João de Latrão, sendo nomeado, quatro anos depois, mestre de noviços, juntando a esse múnus, aquele de pregador de retiros e de confessor na Patriarcal Basílica de São Paulo. Exerceu também outros cargos entre os quais: Procurador-Geral da Congregação Cassinense, Professor de História no Colégio de Santo Anselmo, de Liturgia no Instituto Superior de Música Sacra e Consultor da Sagrada Congregação dos Ritos, hoje Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Sendo eleito Abade do seu Mosteiro em 13 de abril de 1918 e recebendo a bênção abacial que lhe foi ministrada pelo Vigário-Geral de Roma.

Em preparação a cerimônia de beatificação, recordava o seu sucessor, Cardeal Carlo Maria Martini ao celebrar na Basílica de São Paulo: "neste mosteiro, nesta igreja o Cardeal Schuster transcorreu quase quarenta anos de sua vida... Aqui aconteceu a sua formação beneditina, se solidificou a sua espiritualidade, exercitou os ministérios e viveu a grave responsabilidade de Abade... Exatamente neste mosteiro e nesta Basílica de São Paulo aprendeu o alfabeto da oração, aprendeu a ritmar sua vida pela oração, aprendeu o respiro da oração e, a irradiação daquela oração, se tornou, pois, o seu principal apostolado".

A Santa Sé demonstrava sempre grande confiança no Abade Schuster, por isso mesmo encarregou-lhe das tarefas de Presidente do Instituto Oriental, Presidente da Pontifícia Comissão de Arte Sacra, além de Visitador Apostólico dos seminários da Itália meridional e depois também daqueles da Lombardia, e ainda de algumas dioceses e várias Ordens religiosas.

No dia 26 de junho de 1929 foi nomeado sucessor do Cardeal Tosi em Milão, hoje a maior diocese em número de paróquias do mundo, sendo criado, no consistório exclusivo para ele, em 15 de julho, Cardeal Presbítero dos Títulos de São Silvestre e São Martinho dos montes, recendo a sagração episcopal das mãos do Santo Padre, Sua Santidade o Papa Pio XI na Capela Sistina no dia 21 de julho, tomando posse solene da sua cátedra em setembro daquele ano, ocasião em que repetiu o gesto do seu antecessor na Cátedra Milanesa, São Carlos Borromeu, ao oscular o solo do território que deveria assumir como pastor; gesto que se tornou bem conhecido em nossos dias através da Visitas Apostólicas efetuadas pelo Servo de Deus, João Paulo II que beijava a terra do país que o acolhia, a princípio ajoelhando-se para isso e depois, com a saúde debilitada, fazendo chegar aos seus lábios, para oscular, uma porção da terra do lugar que o estava a receber.

O Bem-aventurado Schuster estava ainda à testa da Arquidiocese de Milão, nos longos meses da ocupação alemã, durante a segunda guerra, quando na festa da Imaculada consagra a cidade e a arquidiocese ao Coração Imaculado de Maria, rogando a mãe de Deus que salvasse Milão e a Lombardia de maiores danos. Diante da dolorosa situação e do sofrimento do povo que lhe fora confiado, buscava continuamente viver aquilo que ensinava: omnia vincit amor. É celebre também a visita que recebera de Benito Mussolini, o Duque, a quem consignou um exemplar da Santa Regra, explicando que São Bento era o seu padroeiro onomástico. Em 30 de agosto de 1954, com apenas 74 anos de idade, 50 de presbiterato e 25 de Episcopado deixa a morada terrena para unir-se, na visão beatífica, na morada eterna, juntos aos santos que o precederam na Cátedra milanesa, entre os quais, Santo Ambrósio.

Deixemos agora que um santo fale de outro, e isso se deu, no elogio fúnebre ao Cardeal Schuster feito pelo Cardeal Roncalli (hoje Bem-aventurado João XXIII): "Bispo e monge, foi durante um quarto de século, a ilustração mais conhecida e mais admirada do glorioso binômio Ora et labora, que grava nos séculos a obra mais evidente da Ordem Beneditina. E quero convidar-vos, na lembrança do venerado Pastor, a estes três grandes ensinamentos que ele nos dá: preparar-nos a morrer bem, e enquanto não soa a hora, retomar os dois eixos que sustentam a vida feliz do cristão na terra: orar e trabalhar, cada qual na posição social, na vocação pessoal que lhe pertence. Ora et labora. Grave aviso para quantos estamos em viagem: a hora se adianta para cada um. O Cardeal partiu: nós o seguiremos unus post alium, como os monges a caminho. Bem-aventurados nós se seguirmos os seus passos". Por isso, nós confiantes, como viajores, invoquemos: Bem-aventurado Cardeal Schuster, ora pro nobis!

D. Hugo da Silva Cavalcante, OSB