O papa é morto

O papa é morto. De certa forma, Deus nos abandonou. Digo-o baseado na mais lídima doutrina cristã, porquanto o papa é sucessor de são Pedro e, como tal, vigário de Cristo, ou seja, "representante" de Jesus entre os homens. Por isso, sendo o papa morto, é óbvio que nos sintamos órfãos. A sensação é ruim. Através do doce semblante do papa, podíamos vislumbrar a face esplendorosa de Deus. É uma relação escatológica que mantínhamos com João Paulo II.
O papa está sendo pranteado por todos os homens de boa-vontade. Senti a tristeza de Henry Sobel, ao se referir a João Paulo II como amigo dos judeus. De fato, o papa era o grande amigo de todos; nosso pai. Nele víamos a referência, a possibilidade de um mundo novo.
Eu nunca passei por uma situação tão infausta. Meu chão simplesmente ruiu. Sensação igual acometeu-me quando do recente passamento de minha mãe. Agora, talvez consiga compreender o temor e a tristeza que abateram os contemporâneos de Jesus, seus discípulos, no momento em que não o tiveram mais consigo.
O principal legado que João Paulo II nos outorga é a adesão firme e incondicional ao evangelho de Jesus Cristo. Um papa que no Brasil e para os prelados deste país sempre insistiu na necessidade da reforma agrária, como um item de justiça evangélica. Um papa que lançou anátemas contra o capitalismo neoliberal, em discursos e encíclicas. João Paulo II nunca se deixou persuadir pelas ondas da pseudo-modernidade, que, em detrimento dos valores católico-cristãos, desejam que a Igreja aceite o aborto, o casamento de homossexuais, a eutanásia e tantos outros males. Contestando toda essa permissividade e perversidade, João Paulo II advogou em prol dos direitos da família, da indissolubilidade do casamento, da virtude da castidade.
O Espírito Santo continua a assistir a Igreja católica. Esta é uma afrimação indefectível e nosso consolo nestes dias de luto. Vamos rezar para que o próximo conclave eleja o mais rapidamente possível um novo bispo de Roma. Deve ser alguém que ame os pobres, que continue a bradar em todos os cantos do mundo que Jesus optou pelos pobres, que nossa salvação passa pelo amor aos pobres. Esta, a meu ver, é a primeira e mais importante qualidade do novo papa. Além disso, a exemplo de João Paulo II, o papa que o conclave escolherá precisa ser um homem terno e fraterno, afável, sorridente, aberto às pessoas que o procurarem, enfim, um homem que fuja do fausto e da pompa e adira vigorosamente à simplicidade, à austeridade, ao equilíbrio.
Em uma palavra, o próximo papa tem de ser um autêntico discípulo de João Paulo II, ou seja, um homem capaz de dar a própria vida pela causa do Evangelho. Amém.


Edson Luiz Sampel