A oratória.

Edson Luiz Sampel

A oratória é uma arte extremamente exigente. Não deve ser confundida com a retórica, pois esta se encontra preocupada com a possibilidade de o falante convencer o interlocutor, custe o que custar. A oratória, por seu turno, é a arte de falar bem: é, em outros termos, a facúndia. Quando uma pessoa se expressa oralmente, quer na linguagem coloquial entre amigos, quer na ministração de uma aula, deverá proceder de forma respeitosa à gramática, além de pejar o discurso com vocábulos belos e vivificantes. Riquíssima é a língua portuguesa. O orador é invitado a perscrutar os meandros do idioma, a fim de sacar expressões originais. Não pedantes! Não se trata de impressionar com "palavras difíceis". O vocabulário incomum tem de ser empregado adequada e precisamente.

Nada mais cacete do que uma oração prenhe de "ãs", "és" etc. Enfadonha igualmente é a fala na qual se repetem as mesmas palavras; sem o recurso à sinonímia.  O discurso deve ser retilíneo, fluido. Os assistentes assimilarão o conteúdo, porque a forma é austera e bonita. Ademais, o orador preparará a locução. Não a realizará de improviso. Caso fale de improviso, que sejam observadas as regras básicas! Veja-se o notável exemplo do Pe. Vieira, o mais augusto orador do português. O aludido cura nunca falava de improviso. Suas homilias eram cuidadosamente confeccionadas. Os textos de Vieira são requintadíssimos e corretíssimos. Ombreia-se com esse jesuíta só um outro presbítero, Pe. Manoel Bernardes. Quem quiser aprender a falar e a pensar não deixe de ler os sermões do Pe. Antônio Vieira, S.J.

Nos dias que correm, desgraçadamente, os oradores são obtusos e parcos de sabedoria. Isto para não dizer palavra acerca dos que desconhecem até mesmo as normas comezinhas da sintaxe. O discurso dessa gente é carregado de vícios e de toda sorte de inexatidões. Afinal de contas, vivemos a anti-cultura da televisão, que emburra o ser humano, pelo menos o tele-vidente, subtraindo dele a capacidade de pensar e discernir corretamente.

Há, com efeito, técnicas para a elaboração de um bom discurso. Nada obstante, na minha opinião, o que mais conta é a quantidade de livros que o orador lê. Refiro-me, é claro, às obras excelentes, aos clássicos, a um Machado de Assis, a um José de Alencar etc. Existem pessoas que lêem amiúde, porém não degustam os livros certos; antes, optam pelo lixo que pulula no mercado. As referidas pessoas - infelizmente, a maioria do público ledor - poderão ler centenas de milhares de textos, sem adquirir sapiência nenhuma, nem sequer o enriquecimento do vocabulário.

Moral da história: volvamos aos clássicos já!