Os profetas são homens e mulheres que interpretaram a realidade à luz dos preceitos divinos. Não se dirigiram apenas aos seus coetâneos; conclamavam as gentes todas à conversão.

Hodiernamente, há profetas. Por exemplo, mencionemos Dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de São Paulo. Este varão intemerato arrostou os poderes demoníacos da ditadura e ofereceu seu afável braço àqueles que o procuravam na cúria metropolitana; mães em busca de filhos desaparecidos, sindicalistas querendo proteção etc. De qualquer modo, todas as pessoas eram sempre bem acolhidas. Digo que este antístite agiu deveras como profeta, porque tomou dois caminhos peculiares à profecia veterotestamentária: as denúncias da mazela do poder (diatribes proféticas) e o anúncio da esperança soteriológica. Com efeito, Dom Paulo, sob o pálio do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, na trilha dos profetas; de um Isaias, de um Jeremias, apelidava o povo a enxergar as agruras perpetradas pela ditadura militar: assassínios de toda sorte, repressão,  carência de liberdade de expressão, violência, enfim, medo. Por outro lado,  ao revés, comunicava a boa notícia de Jesus Cristo, que veio para falar preferencialmente aos pobres. Os inermes daqueles decênios obtusos e horrendos viam em Dom Paulo o homem da esperança. Aliás, este é o lema episcopal deste grande brasileiro e católico: "de esperança em esperança!".

Houve outros profetas em nossa história recente. Citemos Dom Hélder Câmara. Não nos deslembremos de um Santo Dias, leigo, metalúrgico, que tombou em frente de uma fábrica, martirizado pela polícia militar.

Presentemente, contamos com um profeta ímpar. Refiro-me ao sucessor de são Pedro, João Paulo II. Este homem é, destarte, um profeta de escol. Lançou diatribes pesadas contra o neoliberalismo. É conservador na doutrina moral, como convém que seja. No entanto, é progressista no campo social, como um lídimo profeta, que vê além de tacanhos horizontes.

Cada um de nós também é invitado a ser profeta. Apliquemos ao nosso quotidiano os valores evangélicos, propiciando a transformação da realidade, e seremos profetas coevos. Antes: dediquemo-nos aos pobres, sentemo-nos com eles, ouçamos suas lamúrias, não ocultemos deles nossas faces rubras... Para o católico ou cristão que não é profeta, serve a admoestação daquele ditado popular: quem não vive para servir não serve para viver.

 

Edson Luiz Sampel