É incrível como a fealdade atrai. A sociedade machista e consumista tem um discurso diferente: a mulher (reles objeto) tem de ser bela e esbelta. Todavia, na prática, principalmente nos meios televisivos, o feio tomou conta da situação. Basta assistir aos programas sensacionalistas (quanto sangue!), aos shows bregas de certas mulheres. Os próprios artistas, quando se apresentam, fazem-no trajando roupas que chegam às raias do maltrapilho.

Hoje em dia ninguém se interessa pela leitura de um bom livro. Os poucos que lêem optam por autores ruins, sem substância, que redigem mal. Por que não recorrerem aos clássicos, tipo um Machado de Assis? Deparam-se neste escritor textos límpidos, prenhes de expressões elegantes, modos de pensar que coadjuvam a engendrar uma nova visão de mundo, bem pé-no-chão. Enfim, as chamadas belas-artes não suscitam emoções nenhumas. No entanto, todo mundo está interessado na baixaria (feiúra) do Big Brother. Coisas que antanho eram relegadas à intimidade são agora exibidas na televisão. No mesmo horário, um espetáculo de música clássica, veiculado pela TV Cultura, desperta a atenção de pouquíssimo televidentes.

Enganam-se os que crêem que as mulheres bonitas das propagandas de cerveja sejam autênticas representantes da beleza. Não. Estas pessoas enaltecem a fealdade. Explico-me. Sou da opinião de que a beleza é uma característica cultural, ou seja, é mister que a burilemos, que se passe o objeto da estética pelo crivo da cultura. Assim, uma garota de “curvas perfeitas”, trajando biquíni é indubitavelmente bonita. Nada obstante, as referidas senhoras não são apreciadas em virtude de sua pretensa beleza; os homens enxergam-nas como objetos sexuais. Assim, não se trata da beleza escultural, forjada em tantas peças de arte ao largo da história. No caso em exame, arrostamos a pornografia, o que é feio. Observe que não sou moralista. Apenas analiso a estética com espeque em padrões mínimos. Neste sentido, a beleza genuína traduzir-se-ia numa mulher garrida, com vestidos que fossem uma jóia, em outras palavras, uma pessoa que passou pelo crisol da cultura. Se não houver a mediação da cultura, estamos diante do feio, do horripilante, do homem-animal.

Para concluir, gostaria de dizer que creio piamente que só o homem lapidado é verdadeiramente humano. Aliás, a humanidade não é um apanágio ontológico da espécie Homo Sapiens; é uma conquista diária. Se degustamos o feio é porque ainda não somos suficientemente humanos. Adquirir a humanidade é algo que demanda bastante empenho. Saborear o belo pressupõe cultura, o que implica outrossim educação esmerada e outros predicativos. Dizia um antístite de São Paulo: quem não reza vira bicho!

Edson Luiz Sampel