Gosto muito de um poema de Fernando Pessoa que retrata bem a natureza do ser humano. À certa altura, o poeta ironicamente atesta que não conheceu perdedores na vida; todos são campeões. Só ele é vil. Apenas ele cometeu erros e teve desejos torpes. Conclusão: o homem nega a si mesmo; não assume sua fraqueza e o montão de pecados e crimes que vive a perpetrar.

Apraz-me ainda memorar as visitas do papa à cadeia de Roma. O bispo da Cidade Eterna contava aos presidiários que estava naquela enxovia como alguém mandado ou enviado. Com efeito, o santo padre se reportava ao evangelho de são Mateus (Mt 25,31-46): “estive preso e vieste me visitar.” Mas, o que me tangeu a alma foi o fato de o papa portar-se como uma pessoa absolutamente igual àqueles condenados. Em nenhum momento, o vigário de Cristo assumiu uma postura moralista. Seu desiderato era apostólico: confortar os irmãos que se encontravam sob o jugo do direito penal.

Outra vicissitude que vem à mente neste momento é o assassínio de uma garota, anos atrás no meu bairro. O namorado dela, enlouquecido em face de um rompimento, deu cabo da vida da moça. Todos ficaram estupefatos com o ocorrido. O jovem foi objeto de ódio e linchamento moral. Ora, vislumbro em tudo isto um quê de hipocrisia. É óbvio que atitudes macabras como esta têm de ser evitadas a qualquer preço. Todavia, suplico que meu dileto leitor seja sincero na resposta: quem está totalmente seguro de que jamais cometerá um ato tão pérfido? Será que conhecemos verdadeiramente nossos limites?

Edson Luiz Sampel