Amizade. Muito já se gastou de tinta para falar deste tema. De qualquer modo, penso que há sempre uma palavra nova a ser dita. Proponho-me a discorrer acerca das nuanças religiosas da amizade. Sim, porque inexiste qualquer coisa na vida que não esteja imbricada pela religião. Este fenômeno ocorre, a despeito do querer das pessoas; a despeito até das ideologias atéias, que denegam a presença carinhosa de Deus.

O modelo de amigo é Jesus Cristo. Jesus é deveras a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é, Deus encarnado, feito homem. Enquanto ser humano, igual em tudo a nós outros, salvo no pecado. Assim sendo, o homem Jesus Cristo nos resgatou para a vida eterna e o homem Jesus Cristo é o padrão do ser humano. Diz-nos o Concílio Vaticano II que o ser humano só se conhece verdadeiramente sob a luz do mistério de Jesus Cristo. Desta feita, o cristianismo ilumina portentosamente a condição humana, desvendando-lhe sua dignidade intrínseca e inalienável.

Jesus é um amigo perfeito. Nunca trai a pessoa que d'Ele se aproxima. Todavia, muita vez - podemos observá-lo nos relatos evangélicos - Jesus sabe repreender os amigos, diz-lhes não. Enfim, o amigo Jesus tem em mira o escopo de cada pessoa, qual seja, a salvação da alma, a caminhada para a visão beatífica, vale dizer, a felicidade eterna. Mas, Jesus está cônscio de que estes acontecimentos póstumos têm lugar aqui nesta Terra, neste vale de lágrimas. Por isso, os relacionamentos são extremamente importantes e ganham foros de mediação salvífica.

Disse no parágrafo anterior que Jesus não relativiza o mal. Arrosta-o confiantemente e denuncia o falso moralismo dos fariseus. Aliás, Cristo fora condenado à morte de cruz, porque colocou às claras as mazelas perpetradas pelos poderosos da época, verdadeiros inimigos do povo.

Quem quiser praticar a autêntica amizade tem de compulsar as páginas dos evangelhos e assimilar o modos vivendi Christi. Como Jesus reagiria nesta situação concreta? Que resposta daria ele àquele amigo que está inquieto? É possível empregarmos os critérios jesuíticos, pois eles nos foram relatados na bíblia e através da Igreja católica, fundada por Jesus para transmitir ao mundo a boa-nova da amizade intemerata.

O amigo verdadeiro, o amigo cristão, estará diuturnamente a postos na hora da necessidade. Este amigo não permanece o tempo todo às voltas do amado, acariciando-lhe e adulando. Não! Ele quer o bem e a salvação da pessoa que ama. Uma outra característica da amizade nos moldes cristãos é a insistência. Com efeito, o amigo insiste sempre, nunca desiste; bate sempre à porta do amigo, quer ajudá-lo, quer reconfortá-lo.