A verdadeira política tem por finalidade fazer o mundo ser melhor e saudável. Mas não é o que está acontecendo na prática, principalmente no que se refere à administração da coisa pública, da construção do bem comum, impedindo que a sociedade seja diferente e melhor. Existe o domínio de interesses econômicos de poderosos com modelos políticos populistas e fechados à coletividade.

Os dois termos “populismo” e “populista”, no dizer do Papa Francisco, invadiram o mundo da comunicação e a linguagem geral dos últimos tempos, classificando tudo como “populista” ou “não populista”. Desta forma, qualquer opinião sobre determinado tema é classificada dentro desses dois polos, seja para desacreditar o que é apresentado em opinião ou para sobrestimar seu conteúdo.

O populismo tem uma chave de leitura muito preocupante. Ele descaracteriza a noção de povo, eliminando com isso a palavra “democracia”, que significa “governo do povo”. Os projetos de uma comunidade de pessoas devem ser compartilhados e caracterizados como sonhos coletivos. Tudo isso significa que não podemos eliminar dados fundamentais: o substantivo “povo” e o adjetivo “popular”.

A identidade de um povo é constituída por vínculos sociais e culturais, formada por um processo muito lento e difícil, integrando as pessoas rumo a objetivos comuns. Essa construção depende de líderes populares com capacidade de ceder lugar a outros, mas também com o perigo de degradação quando abre espaço para ações populistas, ideológicas e com interesses egoístas de poder.

Não é saudável deformar a palavra “povo”, mesmo que tenha uma dimensão popular. Ela é aberta ao crescimento, com disposição para se deixar mover, interpelar, crescer e enriquecer por outros, sem interesses imediatos. No meio de todos aqueles que têm pertença a um povo, existe esforço e criatividade na ajuda mútua. Podemos até dizer de um populismo responsável.

Em cada pessoa, seja rica ou pobre, existem capacidades, iniciativas e forças para o trabalho, através do qual se consegue uma vida digna. Não basta dar dinheiro para o pobre. Ele precisa mesmo é de ocupação no trabalho para viver a dimensão de sua vida social, de se sentir como gente, de saber que está também contribuindo com o desenvolvimento da sociedade e de viver como povo.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.