O mundo dos últimos tempos tem um olhar imaginário para o infinito, de forma globalizada, colocada em evidência pelas redes virtuais, e outro focado no seu próprio chão, ondo a vida acontece de forma concreta. São realidades que podem gerar tensões, porque há o confronto entre o universalismo abstrato, global, e a prática de uma vivência petrificada e avessa a qualquer tipo de transformação.

Tudo que acontece na mudança cultural revela a beleza dos dons de Deus para a humanidade. O global pode tirar as pessoas do mundo da “mesquinhez caseira”, no dizer do Papa Francisco. Mas são duas situações complementares e não podem ser separadas. A separação desses dois polos, presentes no mundo da cultura, pode levar a determinadas radicalizações ideológicas polarizadas.

Em termos concretos, não estamos aqui falando apenas no âmbito do mundo digital. Na Encíclica Fratelli Tutti, o Papa quer ampliar o sentido de fraternidade e corresponsabilidade entre todas as nações do mundo. Significa que o povo de um país tenha abertura em relação aos demais, acolhendo os dons do outro, mesmo sem perder as raízes culturais de quem recebe e de quem é recebido.

O universal e o particular têm dimensões de unidade na diversidade. O que é universal não diminui em si mesmo, nem a parte isolada fica estabilizada, porque ambos, o todo e a parte, têm valores que precisam ser respeitados. O fundamental é nenhum se fechar em si mesmo dificultando o reconhecimento de princípios que estão presentes na tradição de cada nação e de cada povo.

Nenhuma comunidade pode criar uma muralha defensiva para sua salvaguarda, porque se torna estática, adoece e deixa de ser saudável, aberta e acolhedora. Isso é incapacidade para receber as belezas e possibilidades que podem vir do mundo inteiro. É preciso ter consciência de que os relacionamentos e confrontos com quem é diferente faz descobrir peculiaridades e possibilidades de ajuda.

Não há perda de identidade no confronto entre culturas. Há sim síntese, que beneficia a todas. O mundo é uma grande família, família de nações, caracterizado pela comunhão dialogal entre os povos, formando uma integração universal. Deve privilegiar prática e espírito de vizinhança cordial, de gratuidade, solidariedade e reciprocidade. Os outros não podem ser concorrentes e inimigos.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.