Dom Edson Oriolo1

Em data recente, foi lançado o filme “O Dilema das Redes”, no festival de Sundance, no mês de fevereiro deste ano. Pela Netflix, foi lançado na primeira quinzena de setembro. O filme foi escrito por Jeff Orlowski. Ele analisa o papel e a dinâmica das redes sociais por meio de depoimentos de especialistas de diversas áreas e ex-funcionários de grandes empresas de tecnologias e, principalmente, os efeitos das redes sociais na vida das pessoas.

São inúmeras as redes como Facebook, Snapchat, Twitter, Instagram, Youtube, Tiktok, Google, Pinterest, Reddit, Linkedln. Essas plataformas e ferramentas digitais estão mudando, de maneira sutil, imperceptível e gradual, a nossa maneira de pensar o mundo urbano. Com todas as suas tecnologias e expertises querem modificar o que fazemos, o que pensamos e quem somos. Nesse mundo digital, a tecnologia tem se tornado personativa. Além do mais, consegue manipular o psicológico das pessoas para atingir mais engajamento. Explora a vulnerabilidade dos seres humanos.

Destarte, as redes sociais têm os seus próprios meios para atingir as suas metas. Jeff Seibert comenta que tudo o que fazemos online está sendo rastreado, seguido e cuidadosamente monitorado. Cada imagem é observada em tempo real. Sabem de tudo. Eles têm mais informações sobre nós do que é possível imaginar. Com esses bancos de dados criam situações e modelos para manipular as nossas mentes com a dinâmica dos algoritmos.

Seguindo tal linha de raciocínio pode-se afirmar que algoritmos são passos, procedimentos, processos necessários para a resolução de uma tarefa. Eles não respondem à pergunta “o que fazer”, mas sim, “como fazer”. Têm enorme influência nas escolhas. São instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa. Usamos a todo o momento, sobretudo quando envolvemos pessoas para chegar a um fim. É um tipo de rotina que devemos executar.

Com as redes sociais e os algoritmos em cena surgem as bolhas digitais. Essas funcionam como um espelho, no qual as opiniões com as quais concordamos pelas redes sociais se refletem e se replicam. No entanto, o algoritmo da rede social passa a entender o que curtimos, criticamos, convocamos, detestamos, aplaudimos, amamos e rimos. A partir daí, a bolha digital faz com que nos iludamos, achando que todo mundo pensa a mesma coisa, tornando banais ou excepcionais os nossos princípios, valores, nossa religiosidade e, principalmente, a fé e a devoção dos cristãos.

Com efeito, essa realidade está entrando sutilmente nos processos da evangelização no mundo urbano, causando graves danos com a desarticulação de nossos ministros ordenados e não ordenados, nos ciclos e processos da evangelização. Estamos entrando na onda do virtual e esquecendo o que é real. Estamos formando inúmeras bolhas digitais. As redes sociais estão dominando e superando a natureza humana com sua

racionalidade. A inteligência artificial está jogando e brincando conosco. Dessa maneira, penso que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil/2019-2023 poderão nos ajudar a reorganizar, reinventar, repensar, redesenhar e redescobrir estratégias e metas para que sejamos criativos e ativos.

Mesmo diante de uma crise com tal dimensão, a missão da Igreja no Brasil é importantíssima e não pode parar. Diante de nós, ela se apresenta com premência a responsabilidade de “evangelizar no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da casa comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”. Penso que, mesmo sabendo que o algoritmo está ficando cada vez mais inteligente e criando desafios pela vulnerabilidade dos seres humanos, podemos encontrar meios nessas plataformas e ferramentas digitais para produzir resultados melhores nos processos da evangelização.

Para evangelizarmos nas redes sociais de maneira que tenhamos passos finitos e organizados, à luz do mandato missionário de Jesus Cristo, é necessário definir bem “os processos e passos na evangelização”, “ter uma representação esquemática da instituição e dos processos e uma narrativa bem descritiva de como operacionalizar todo o processo de evangelização”, para ser presença efetiva e iluminadora que faça diferença nas redes sociais.

Ao fazer uso das redes sociais para evangelizar o mundo urbano, temos que ampliar nossa visão sobre elas. Sair do pensamento cartesiano mecanicista para um pensamento diferente é uma necessária reestruturação dentro das organizações eclesiais. Um pensamento sistêmico, isto é, ver a realidade em forma de círculo e não como uma reta. Dessa forma, podemos modificar, adaptar, mudar e melhorar a maneira como estamos evangelizando nas redes sociais, com o advento do algoritmo e das bolhas digitais.

Dado o exposto, podemos inferir o grau de implicabilidade das ferramentas digitais na vida humana, entendendo ser cada vez mais necessário uma luz de discernimento para transformar a tecnologia voraz em aliada ao processo de evangelização que é interminável para a vocação da Igreja.