Houve tantas reclamações sobre as homilias (os sermões da missa), a ponto de o papa Francisco dedicar ao problema quase 22 páginas da exortação Evangelii Gaudium. De fato, o vigário de Cristo é taxativo ao explicar o motivo pelo qual resolveu ensinar como se faz uma boa homilia: “Deter-me-ei particularmente, e até com certa meticulosidade, na homilia e na sua preparação, porque são muitas as reclamações relacionadas com este ministério importante e não podemos fechar os ouvidos.” (Evangelii Gaudium, 135).
            O papa Francisco, no documento acima citado, vai pegando o padre pela mão, explicando ponto a ponto como se elabora uma homilia. A aula do papa é extensa, por isso, gostaria de enfatizar apenas dois aspectos de uma boa homilia, segundo o ensinamento de Francisco: o estilo e o tempo. Talvez aqui nestes dois itens repouse boa parte do descontentamento dos leigos.
            Uma homilia, consoante explana Francisco, é uma “conversa de mãe”, pois, afirma o papa, “a Igreja é mãe e prega ao povo como uma mãe fala ao seu filho” (Evangelii Gaudium, 139). As palavras pronunciadas pelo padre na homilia devem “abrasar os corações”. Escreve o bispo de Roma: “A pregação puramente moralista e doutrinadora e também a que se transforma numa lição de exegese reduzem esta comunicação entre os corações que se verifica na homilia e que deve ter caráter quase sacramental (...)” (Evangelii Gaudium, 142).
            E o tempo que deve durar uma homilia? Bem, certo eclesiástico costumava ponderar, em tom jocoso, que nos primeiros 10 minutos, fala Deus por intermédio de seu ministro (o padre), de 10 a 15 minutos, fala o homem, e daí para frente, quem fala é o Diabo. O papa Francisco faz o seguinte comentário: “O pregador pode até ser capaz de manter vivo o interesse das pessoas por 1 hora, mas assim sua palavra torna-se mais importante do que a celebração da fé.” (Evangelii Gaudium, 138). E conclui o santo padre: “Se a homilia se prolonga demasiado, lesa duas características da celebração litúrgica: a harmonia entre suas partes e o seu ritmo.” ( Evangeli i Gaudium, 138).
            Todo professor sabe quão necessário é preparar uma aula. Se isto não é realizado, os alunos logo percebem e o mestre se sente envergonhado. Uma homilia é bem diferente de uma aula, porém, também exige uma “preparação longa”, conforme frisa Francisco: “A preparação da pregação é uma tarefa tão importante que convém dedicar-lhe um tempo longo de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral.” (Evangelii Gaudium, 145). Ora, o essencial mesmo é que haja uma produção séria e antecipada da homilia que se vai proferir na missa de domingo.
            De qualquer modo, sejamos compassivos com nossos padres e párocos e saibamos relevar e esperar com paciência, pois as coisas decerto mudam aos poucos. Afinal de contas, os presbíteros têm enorme carga de trabalho e pode ser que, em muitos casos, reste pouco tempo para a preparação da homilia. Se bem que o papa faz aos padres um eloquente pedido: “(...) atrevo-me a pedir que todas as semanas se dedique a esta tarefa [a preparação da homilia] um tempo pessoal e comunitário suficientemente longo, mesmo que se tenha de dar menos tempo a outras tarefas também importantes.” (Evangelii Gaudium, 145).

Edson Luiz Sampel
Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (da Arquidiocese de São Paulo).