Aguarda-se com entusiasmo a publicação da terceira carta encíclica do papa Francisco. Necessitamos urgentemente de uma palavra de esperança da parte de nosso amantíssimo pastor. Não só! Precisamos de uma leitura teológica e espiritual desta realidade insana na qual estamos inseridos. Com efeito, o isolamento pandêmico trouxe à baila a maldade de muitos comportamentos. Exemplifique-se com as mensagens mentirosas que se espalham furtiva e ostensivamente. Deste mal imenso do coronavírus surgem, também, coisas meritórias, como, por exemplo, a labuta abnegada e destemida dos profissionais de saúde que se posicionam na linha de frente contra a doença.

Na nova encíclica, chamada "Todos Irmãos", o santo padre deve abordar fundamentalmente duas questões, a saber:  a denominada "amizade social" e a fraternidade. Atitudes canhestras como a capacidade de mentir e de espalhar mentiras, descortinadas ultimamente, forjam inimizades terríveis. Assim, a amizade social arrima-se na verdade. É mister combater sem tréguas a "ditadura do relativismo". Mas, a aludida amizade social outrossim se baseia na compaixão. Esta postura essencialmente cristã visa a criar laços fortes entre as pessoas. O momento atual parece propício à vivência da compaixão.

A fraternidade significa o reconhecimento de que todos os seres humanos são filhos adotivos de Deus e, portanto, irmãos entre si. Da fraternidade advém o "amor fraterno".  Sem embargo, particularmente hoje em dia faz-se necessário lembrar a ambiguidade da expressão "amor fraterno", pois, conforme nos adverte Bento XVI, "o primeiro par de irmãos da história mundial é, segundo a bíblia, Caim e Abel, e um deles matou o outro" (Sal da Terra, p. 153).

Para que o novo documento do nosso amado papa não se circunscreva à análise de grupos de escol, mas chegue ao discernimento do povo de Deus, principalmente dos leigos, envidemos esforços na divulgação da novel carta encíclica, "traduzindo-a" aos mais simples e rogando que os leigos a leem no texto original. Os escritos de Francisco caracterizam-se pela simplicidade de estilo. Penso que em outubro vindouro, todo pároco deva correr à livraria católica mais próxima, para comprar a encíclica "Todos Irmãos", lendo-a e estudando-a imediatamente, a fim de conseguir discorrer sobre ela em homilias e noutras formas de catequese.

Edson Luiz Sampel
Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (da Arquidiocese de São Paulo).