Indubitavelmente, a pandemia que nos assola outrossim comprometeu a saúde financeira das Igrejas particulares. Diversas dioceses têm envidado esforços para quitar as contas, incluindo a prebenda dos clérigos. Os fiéis ainda não retornaram às missas dominicais. Assim, promovem-se campanhas de arrecadação urgente do dízimo.
            Há quem diga que o chamado "novo normal" implicará, entre outros fenômenos, a diminuição definitiva do número de participantes nas celebrações. Alguns "pessimistas" constatam que os templos católicos não voltarão a ficar apinhados como antes do coronavírus. Exageros à parte, percebe-se certo desânimo entre bastantes católicos; reclamam que o discurso homilético de boa parte dos padres tornou-se ameno e pouco impactante. Reprocham, por conseguinte, as homilias de improviso e malfeitas. Também protestam contra o descaso da liturgia.
            Na exortação Evangelii Gaudium, o papa Francisco gasta mais de 20 páginas para ensinar os padres a elaborarem uma boa homilia. O pontífice romano afirma que há muitas reclamações relativamente às homilias (n. 135). O sumo pontífice chega a pedir aos padres que deixem de lado afazeres importantes, a fim de se dedicarem à elaboração da homilia (n. 145). Neste diapasão, quiçá se deva catolicizar as homilias, isto é, colmatá-las com conteúdo autenticamente católico, como, por exemplo, os novíssimos (morte, juízo, céu, pur gat&oacu te;rio e inferno), temática assaz relevante, mormente nesta desdidosa quadra da história. Sempre à luz do evangelho do domingo, faz-se mister inculcar que a Igreja católica é a única instituição religiosa fundada por Jesus Cristo. Caso contrário, o povo incauto, ou seja, a maioria, troca a missa pelo serviço protestante, porque a lábia do pastor cativa mais. Lembro-me que numa paróquia do Alaska, proferiu-se uma homilia de Corpus Christi que bem poderia ser pronunciada em culto protestante: nenhuma palavra sobre transubstanciação, presença real do corpo e sangue de Cristo na hóstia consagrada etc.!   
            No que tange à liturgia, outro ponto do descontentamento dos leigos, cuido que a solução seja simples: com o missal diante dos olhos, ler o que está em preto e fazer o que se encontra grafado em vermelho! As rubricas patenteiam exímio grau de criatividade e tirocínio da Igreja. Séculos de criatividade divinamente inspirada! As dioceses poderiam oferecer aos presbíteros cursos de reciclagem em liturgia.
            Isto posto, a única coisa que a Igreja logra oferecer aos homens é a peculiaridade da bimilenar doutrina católica, que transforma a realidade e soergue os pobres e inermes, porquanto a verdade liberta (Jo 8, 32). Desta feita, esforcemo-nos todos, clérigos e leigos, por destrinchar, ao longo do ano litúrgico, o Catecismo da Igreja Católica em homilias e noutros momentos. Não caiamos na tentação do politicamente correto! Exponhamos ao povo de Deus a riqueza inesgotável do catolicismo.  

Edson Luiz Sampel
Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense (PUL), do Vaticano.