Os ventos fortes, em alto mar, causam vários tipos de agitação nas águas e a formação de grandes ondas. Isso provoca medo nos navegadores inexperientes, podendo até perder a vida como às vezes acontece. Com os apóstolos de Jesus navegando pelo mar da Galileia não foi diferente, mas diante do perigo e do medo apelam para o Mestre, que os acode e lhes dá segurança.
Estamos em tempos agitados, com ventos vindos de todos os lados. Interessante que todas as classes sociais estão sentindo o peso da insegurança, do vendaval da instabilidade, corroborado agora com a agressividade do coronavírus. Ninguém pode dizer que está totalmente imunizado e seguro de não ser infectado. É o vento que veio para dizer que há uma igualdade fundamental entre as pessoas.
No meio da tempestade em alto mar, a palavra de Jesus para os transeuntes foi: “coragem”, mas também acalmou a fúria das águas agitadas. O momento não é de perda de coragem só porque enfrentamos dificuldades. Mas também é necessário abrir os olhos para a confiança naquele que é capaz de acalmar as águas. Não basta confiar em nós mesmos, mas pedir a proteção divina.
Podemos dizer que o medo é o contrário da fé. Quanto mais a pessoa achar que Deus é um fantasma (Mt 14,26), muito mais insegurança terá e poderá perder o sentido da vida. Qualquer água agitada, por mais raso que seja o local, é capaz de levá-la para o fundo e morrer. A agitação descontrolada pode não ter a presença de Deus, porque Ele é o Deus da serenidade e da responsabilidade.
Os últimos anos têm sido muito agitados nas redes sociais, porque as pessoas dizem o que querem, sem filtro nenhum. Não somente dizem como também divulgam notícias construídas sem responsabilidade, nivelando por baixo o grau de confiança nessas redes de comunicação. São águas bem agitadas que causam muitos prejuízos para a harmonia da sociedade e desrespeito às pessoas.
Necessitamos de ventos novos para conduzir a humanidade. No momento, a chegada da vacina de combate ao vírus da covid-19 poderá trazer novos rumos para os povos. Mas outros ventos também são urgentes para superar as brigas ideológicas que dificultam um caminho de fraternidade e partilha entre as pessoas. A briga pelo poder e o ter faz muita gente sofrer e perder a esperança no país.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.