A partir deste título, vamos falar do Reino de Deus, do motivo da encarnação do Verbo e da vinda de Jesus Cristo ao mundo como Pessoa divina e humana. Essa realidade aconteceu apoiada na prática da justiça, naquilo que dá sustentação para a Palavra de Deus. Não existe verdadeira caridade sem o exercício da justiça dentro do contexto de relacionamento entre as pessoas.
A Justiça e a caridade, para todos aqueles que procuram viver os ensinamentos da Palavra do Evangelho, são duas pérolas de grande valor, como essência do Reino de Deus. Não tem como uma existir sem a presença da outra. Assim, ao falar do Reino, a Bíblia diz que ele é como um tesouro que está escondido num campo, e quem o encontra faz de tudo para adquiri-lo e levá-lo consigo.
Mas o Reino de Deus é comparado também com uma rede de pesca. O pescador joga a rede em águas profundas sem saber o que vai apanhar. Nela pode vir todo tipo de peixe, tanto grandes quanto pequenos, bons para o comércio e peixes sem valor para recompensar o trabalho realizado. Essa é a realidade do mundo, onde há o domínio dos valores da vida em meio aos contravalores.
O justo é capaz de tirar desse tesouro divino coisas novas e velhas. Os injustos não conseguem perceber a riqueza do Reino de Deus, e não trabalham pela solidez de sua construção. Aliás, eles constroem um reino sem a dimensão de eternidade, que não é um verdadeiro tesouro. Não colocam como base os fundamentos da fé e da justiça, que superam todo tipo de autossuficiência e egoísmo.
A ideia de reino sugere a palavra administração, um serviço feito com sabedoria, com justiça e em benefício da coletividade. Assim fez Jesus durante o seu ministério, indo ao encontro de todas as pessoas com mais fragilidade, porque o reino a ser construído é para todos. Essa é a missão dos governantes dos países, agir em benefício do povo e não de uma elite cheia de privilégios.
A justiça passa pelo caminho do julgamento, porque ela é incompatível com a maldade, injustiça, desigualdade, exploração etc. Os atos injustos não são conformes com vontade de Deus e, no tribunal, muita gente acaba condenada e a vida destruída. Pesa para quem tem poder administrativo o ônus da responsabilidade de agir com justiça, principalmente quando depende dele o bem comum.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.