Seria quase impossível falar sobre a identidade de Deus sem a presença de alguns traços dessa realidade sobrenatural, porque existe um mistério e uma distância muito grande entre o humano e o divino, superados somente pela ação intermediada por Jesus Cristo. Jesus fez justamente a aproximação do céu com a terra através do fato de sua ascensão e o envio do Espírito Santo em Pentecostes.

Celebramos a Festa da comunhão na Santíssima Trindade. É a manifestação de Deus nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, constituindo um verdadeiro gesto de amor, que engloba toda a humanidade na via da salvação. A Encarnação de Jesus Cristo no seio dos humanos trouxe vigor positivo para o mundo, instaurando um reino com marcas profundas de justiça, paz e fraternidade.

A história dos povos foi muito marcada por rupturas. Uma delas aconteceu com a vinda de Jesus de Nazaré, como Deus e como homem, encerrando um longo passado de expectativas, mas também construindo as verdadeiras bases para um futuro concreto de esperança. Na pessoa de Jesus, Deus vem ao encontro das pessoas para motivá-las na construção do bem, relacionado com a vida.

Na identidade de Deus podemos enxergar alguns aspectos que lhes são próprios como a misericórdia, a clemência, a bondade, a fidelidade, a paciência etc. Mas podemos destacar também um Deus amoroso e próximo das pessoas, que caminha junto e quer o bem de todos, sem distinção. Ele não leva em conta a dureza do coração humano com tendência para o erro, mas opta pela misericórdia.

A crise da pandemia pode ser interpretada como uma nova ruptura na história do mundo. Milhares de pessoas morreram até agora, deixando um rastro de sofrimento e de desestruturação social e familiar de grandes dimensões. A sociedade não pode continuar da mesma forma de antes. Ela precisa se reinventar e construir novos padrões de sustentação com bases sólidas de fraternidade.

Apesar do mistério da Santíssima Trindade, Deus sempre foi acessível a todas as pessoas. Basta saber que Ele não é Deus de um povo ou de uma classe privilegiada. Acolhe a todos que O procuram pela prática de fidelidade aos princípios do Evangelho, principalmente da justiça, da verdade e do amor. É uma identidade divina, que se aproxima amorosamente das realidades das pessoas humanas.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.