Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba

O isolamento social ”expulsou” as pessoas das ruas e exigiu delas um gesto de sacrifício, de paciência, de convivência e de defesa contra a contaminação do coronavirus. Certamente isso veio provocar uma reflexão sobre o sentido verdadeiro de família, de lar, lareira, como expressão de calor humano na convivência. Pode estar sendo um momento difícil, porque perdemos a beleza do conviver familiar.

Para quem sempre participava das atividades religiosas de sua comunidade paroquial, certamente está sentindo um vazio na sua expressão de fé. As paróquias estão se esforçando no uso dos meios de comunicação para não deixar seus fieis desamparados. Missas e outros momentos celebrativos têm sido transmitidos via TV, Rádio e Redes Sociais, mas sem presença de público.

Pelo batismo todo cristão passa a pertencer à comunidade Igreja, faz corpo e unidade com os demais, principalmente quando se encontram unidos na mesma fé para suas orações. Isto não significa ser apenas dentro do templo e não importa o lugar. Neste isolamento social, a casa de família passa a ser verdadeira Igreja Doméstica, com a presença de Jesus Cristo através dos momentos de oração.

A identidade familiar perdeu diversos dos seus valores na cultura dos últimos tempos. Tem havido muita falta da unidade entre os membros dentro do lar, fruto de um modelo de vida centrado na prática do individualismo. Agora, com a pandemia, o isolamento social, a retomada da unidade deve ter exigido muito esforço em muitas famílias, desacostumadas com esse estilo de convivência.

Há uma expressão citada pelo Papa Francisco em que ele diz que “o tempo é superior ao espaço”. Com isto podemos dizer que a vida cristã não se restringir à realização de celebrações em espaços físicos determinados, mas na condução da espiritualidade concreta durante a vida toda. Isso pode ser também em casa como agora no tempo da pandemia, que impede a participação na comunidade.

Precisamos entender que a Covid-19 trouxe um enorme espaço de oportunidade para a vivência cristã no seio familiar. Deus permite situações inusitadas para despertar a sensibilidade para com a fé e com a vida, atitudes tão fragilizadas nos últimos tempos. Nenhum cristão está sendo diminuído pelo fato de ficar em casa. Pelo contrário, está exercendo o bonito gesto da solidariedade fraterna.