A Liturgia do 5º Domingo da Páscoa sugere uma prática de comunhão fraterna entre as pessoas. Isso expressa o que às vezes acontece numa comunidade cristã, especialmente no seio familiar e na sociedade no seu todo. Nesse contexto entendemos o espírito de solidariedade muito comum, principalmente neste tempo em que as pessoas estão em isolamento social por causa da pandemia.

Não é condição necessária ser cristão para entender e praticar a fraternidade. Em tempo de ameaça à vida humana através de muitas circunstâncias, seja de forma mais “natural”, como é o caso da covid-19, seja por outros meios de violência, a vida deve ser preservada com dignidade. Esse valor está também condicionado à maneira como a pessoa se comporta na comunhão e na fraternidade.

Comunhão, fraternidade e amor são termos necessários para hoje. Há o fechamento natural das pessoas, o individualismo vivido nos últimos tempos, e agora com o isolamento exigido na pandemia, o clima psicológico fica totalmente fragilizado. Para quem participa de alguma prática religiosa, o problema se tornou ainda maior com a impossibilidade de presença física nos templos.

Mas tudo o que está acontecendo não pode significar perda de sentido e de sonhos. Talvez seja necessário recriar novo formato de vida logo que passar o pique da pandemia. É o mundo todo que está sendo atingido, exigindo de todas as pessoas posturas diferentes para conquistar o futuro desejado. O coronavirus não veio por acaso, mas é fruto do esgotamento das condições de vida da natureza.

O mundo frenético está sedento de comunhão, de partilha e de respeito. A maneira egoísta e concentradora de agir do mercado globalizado do terceiro milênio é ameaça para o futuro. A natureza não suporta ser destruída indiscriminadamente durante muito tempo. Ela está por atingir o seu limite e começando a reagir também de forma globalizada, colocando em risco todas as projeções do porvir.

 A Páscoa apresenta Cristo como “Pedra Angular” (Mc 12,10), capaz de jogar por terra todo tipo de egoísmo e prepotência. O cenário mundial apresenta corridas em busca de hegemonia, mas sem colocar na base de suas ações as necessidades das pessoas em condição de pobreza. Vemos países ricos com cinturão de miséria, expressão de uma riqueza sem a dimensão da comunhão fraterna.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.