É possível. Com efeito, ao longo dos últimos dois séculos, o homem se tem rebelado avassaladoramente contra Deus e a natureza. Despreza-se Deus à medida que caem por terra os dez mandamentos, de direito natural, inscritos no coração humano. Assim, os inúmeros assassínios, abortos, adultérios, furtos, mentiras, corrupções financeiras e morais, entre outros pecados-crimes, patenteiam o ateísmo prático que permeia a sociedade hodierna. O Concílio Vaticano II enfrenta este problema, exemplificando comportamentos que infeccionam a civilização humana: "(...) o genocídio (...) a eut an&aacut e;sia , o próprio suicídio voluntário (...) tudo que viola a integridade da pessoa humana, como as mutilações, as torturas físicas ou morais e as tentativas de dominação psicológica (...) as condições infra-humanas de vida, os encarceramentos arbitrários, as deportações, a escravidão, a prostituição, o mercado de mulheres e jovens e também as condições degradantes de trabalho (...)" (Constituição pastoral Gaudium et Spes, n. 27c). De outra banda, todos nós agredimos a natureza, em menor ou maior escala. Por exemplo, descuidamos do lixo, omitindo-nos na separação entre resíduos recicláveis e não recicláveis. Há, também, os agressores poderosos, como certas empresas, as quais simplesmente olvidam qualquer respeito e tratam a natureza como reles m eio para a obtenção de lucros vultosos.

Outrossim, ofende-se Deus quando não lhe rendemos o culto de latria, conforme o terceiro mandamento do decálogo. Quantos católicos vão à missa todo domingo? Pouquíssimos. Quantos católicos se confessam com frequência ou, ao menos, uma vez por ano, consoante determinam a santa madre Igreja e o direito canônico (cânon 920 do CIC)? Pouquíssimos. Os que participam da missa dominical maximamente comungam, todavia, deslembram-se de acusar os pecados no sacramento da penitência; filas enormes para a comunhão, nenhuma fila em frente do confessionário! Demais, a evangélica opção preferencial pelos po bres, n& atilde;o exclusiva nem excludente, deixou de inspirar o quotidiano da maioria dos católicos praticantes. Prefere-se a fé intimista à autêntica religião caridosa do evangelho. Põe-se de lado a doutrina social da Igreja!
O papa, vigário de Cristo, "doce Cristo na terra" (Santa Catarina de Sena), sofre opróbrios dia a dia. Quem doesta o sucessor de são Pedro? Pasme! Os católicos autodenominados conservadores. O orgulho enrijou o coração de bastantes católicos, colocando-os acima do sumo pontífice e quiçá do próprio Deus! Quanta loucura!
Segundo irmã Lúcia dos Santos, a vidente supérstite de nossa Senhora de Fátima, Maria santíssima alertou a humanidade sobre possíveis castigos, caso o homem não se convertesse e não se penitenciasse. A mãe de Deus, nas palavras de santa Jacinta Marto, a outra vidente, afirmou que são os pecados de cunho sexual, contrários ao sexto mandamento do decálogo, os que mais precipitam almas no báratro. De fato, se observarmos nossas novelas (termômetro da vida social?), reparamos que quase não há casamentos duradouros e sólidos. Invariavelmente, as personagens encontram-se divorciadas, separadas ou, ent& atilde;o, conduzem relacionamentos em flagrante contraste com a moral cristã. Inculca-se determinado modus vivendi, o qual a sociedade começa a imitar, por carecer de padrões sãos, uma vez que minguam os exemplos virtuosos, sobretudo entre os governantes.


E as mentiras? Pululam por todos os cantos. Cunhou-se até o barbarismo fake news. Quem mente perpetra pecado gravíssimo, descumprindo o oitavo mandamento do decálogo. No entanto, as mensagens mentirosas na Internet poluem as mentes, forjam um jaez de homem imbecilizado, emasculam os ideais patrióticos... Além disso, as referidas comunicações mendazes atiçam os ânimos, esparramam a cizânia e instigam o ódio social. Quanta miséria!
Calma! Existe saída para a debacle. Deus é misericordioso. Esta pandemia decerto findará logo, logo. Sem embargo, conviria que aproveitássemos o recesso do lar, a fim de rezarmos com nossos filhos, principalmente o terço. Procurem, também, os pais exortar os filhos à prática do amor ao próximo, sobretudo ao pobre, preferido de Jesus. Os que professam o ateísmo ponderem a absurdidade desta postura e se esforcem por vislumbrar na maravilhosa criação o poder inefável de Deus.

Edson Luiz Sampel
Professor da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo (da Arquidiocese de São Paulo).