O cenário mundial provocado pela pandemia do covid-19 tem sido inédito. Está mexendo e impactando a vida de todas as pessoas, tanto nas realidades econômica, social, política, e também na dimensão da fé. A prática da quarentena está criando, em muitas famílias, espaço para maior fraternidade e clima de oração no lar. Com isto a vida cristã tem se expressado também diferente.

Esperamos que as consequências, os frutos do atual cenário da humanidade, sejam de novas maneiras de relações interpessoais, de condutas mais humanas no tratar o setor econômico, novas formas de valorizar o processo educativo nas instituições de ensino e de melhor relacionamento com Deus. Devemos até falar de um antes e de um depois da pandemia, que abalou as estruturas da sociedade.

A Páscoa tem sentido de esperança renovada, de fé mais comprometida com a realidade vigente. A ressurreição de Jesus Cristo não foi um fato isolado, porque atinge a todas as pessoas levando-as para a esperança da vida eterna. E quem não passa pela experiência das provações? Todos nós estamos experimentando o isolamento social como expressão dos nossos limites humanos.

O mundo passa por um processo purificador. O vírus é como um corpo estranho na sociedade, que deve ser expurgado. Isto acontece no corpo de cada pessoa com a finalidade de “consertar” o que está errado e prejudicando sua existência. Podemos pensar aqui nos danos sofridos pela terra, como a destruição da natureza, o desrespeito para com a vida das pessoas mais pobres etc.

Parece que tudo está sendo reduzido a provas, a um tipo de sentimento de humilhação diante da fragilidade da vida humana. Foi esse o caminho percorrido por Jesus na travessia da Paixão e morte na cruz, de onde brotou a possibilidade da vida pascal. Não podemos querer um mundo somente do jeito que cada pessoa pensa sem assentimento amadurecido de fé sob a vontade de Deus.

Refletindo sobre a nova realidade marcada por uma prática de fé amadurecida, podemos dizer que Jesus Cristo ressuscitado é o centro da vida do universo e das pessoas. Sem Ele o mundo acaba se precipitando no caos, numa realidade de morte e na impossibilidade da paz. Isso está evidente nas projeções feitas sobre o futuro, caso não haja mudanças significativas na condução da história.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.