Dom Edson Oriolo
O atual cenário mundial tem impactado a nossa vida, em todos os sentidos. Vemo- nos na necessidade de nos organizar de modo diverso ao habitual, não raro refazendo planos, adiando compromissos, reconsiderando metas, usando a criatividade para nos mantermos ativos, elegendo preservar a saúde, nossa e de nossos irmãos e irmãs, sempre e em primeiro lugar.
A pandemia nos afeta nas várias dimensões da vida. A dimensão econômica também inspira a preocupação pelo impacto que se avizinha. Não pode estar em primeiro lugar, norteando nossas ações, mas é preciso ser levada em consideração inclusive pela Igreja. Muitas pessoas já sofrem e sofrerão ainda mais as consequências e sabemos que os pobres sofrerão muito mais.
Em atitude de sensibilidade e corresponsabilidade, para atender às necessidades que se impõe no combate ao Coronavírus (Covid-19), nossas paróquias e comunidades eclesiais missionárias tiveram que se adaptar rapidamente. Há alguns dias, não se celebram missas, casamentos, batizados, etc. Nada de atendimentos, reuniões, encontros, retiros, congressos, etc.
A urgente mobilização global em torno da Covid-19 modificou o modus vivendi de nossas dioceses, paróquias e comunidades de fé. “Isolamento Social”: essa realidade fez com que os ministros ordenados, com muita sensibilidade pastoral, tomassem decisões rápidas e emergenciais, preocupados em sanar o vazio da evangelização, em um momento difícil da caminhada humana!
Através dos meios de comunicação, sobretudo dos ecrãs virtuais, nossa Igreja mantém sua presença na vida dos fiéis. A evangelização pelos meios de comunicação, nunca havia sido tão abrangente e intensa. Com muitos frutos e, também, como rica oportunidade para avaliarmos a qualidade de nossa presença no ambiente digital, acompanhamos a diversidade de reflexões, momentos de oração, piedade popular, bênçãos, formações, reflexões, missas, etc… tudo online. Basta acessar a internet ou ligar a tv, a qualquer momento!
Porém, chegamos ao final de um mês e estamos iniciando outro. Assim como as nossas famílias, também os organismos confessionais são pressionados por uma realidade financeira adversa e pelo dever de cumprir as obrigações institucionais administrativas de dioceses, paróquias e comunidades eclesiais missionárias. Não podemos contar com celebrações, dízimos, quermesses, coletas, festas, promoções, leilões… nossa presença física está limitada. Por outro lado, além de compromissos a serem honrados, como contas ordinárias, parcelas, obras em execução, temos milhares de colaboradores de cujo salário dependem famílias inteiras.
Sob outro aspecto, a atual situação afeta também a ação da Igreja junto às pessoas mais necessitadas. Não são poucas as iniciativas de dioceses, paróquias, comunidades eclesiais na promoção da solidariedade e do enfrentamento das consequências da desigualdade social, da miséria extrema, da fome e etc. A Igreja o faz diretamente ou através de instituições a ela vinculadas. As receitas que mantêm estes trabalhos são, igualmente, a doação dos fiéis. Como nos adaptar para não omitir essa grave responsabilidade evangélica?
Nossas dioceses, paróquias e comunidades eclesiais missionárias se deparam com um grande número de despesas e demandas sociais e pouquíssimas receitas provindas da generosidade do Povo de Deus. As obrigações financeiras e a assistência, diversamente do que alguns imaginam, são satisfeitas na sua quase totalidade pela ajuda dos fiéis em doações, dízimos, coletas e outras formas. É um tema delicado, sobretudo neste momento, mas que nos convida à reflexão.
Diante de um cenário aterrador em que, considerada a ameaça à vida, esse é apenas mais um entre os graves desafios, convém recordar as palavras do Papa Francisco: o dinheiro é para servir e não governar. Essa perspectiva deve ser aplicada em dois movimentos distintos:Num primeiro momento, entender que as estruturas administrativo-eclesiais necessitam se adaptar para sobreviver nesse tempo de Coronavírus. Para tanto, os responsáveis devem elaborar um planejamento orçamentário no âmbito da diocese, paróquia e comunidade eclesial missionária, acompanhar o fluxo de caixa, ter senso de família na administração financeira, controlar e manter a disciplina nas despesas, saber cortar gastos, rever metas de investimentos e, sobretudo, Em síntese, colocar em prática a matemática financeira;Num segundo momento, somos impelidos a por em prática o ideal da comunhão, através da dinâmica da diocesaneidade, do interparoquial e da solidariedade e partilha entre comunidades. Dioceses, paróquias, comunidades eclesiais missionárias ajudando- se mutuamente em relação às despesas: côngruas dos sacerdotes; contas de luz, água, telefone e internet; despesas com manutenção do culto, das ações evangelizadoras diocesanas e da partilha com os pobres, tão necessário e urgente neste momento: “Aliviar a miséria dos que sofrem, próximos e distantes, não só com o supérfluo mas também com o necessário” (SRS, 31).
Os sacerdotes devem aproximar-se dos sofrimentos e necessidades de seu presbitério. Que os padres da mesma forania ou região pastoral juntamente com seus conselhos entrem em contatos uns com os outros, partilhem suas necessidades e busquem soluções comuns (cf. Mc 12, 41-44), tanto para a manutenção dos compromissos urgentes quanto para a assistência ao Povo de Deus.
Finalmente, que se encontrem meios alternativos e criativos para que, dentro das possibilidades, nossos fiéis possam continuar nos ajudando. Sem cair na tentação da teologia da prosperidade, da filosofia do coaching ou, pior ainda, na insensibilidade diante da situação do Povo de Deus. Busquemos, em primeiro lugar, a vida e vida plena. Juntos vamos nos organizar, satisfaçamos nossos compromissos e partilhemos com generosidade, lembrando-nos da CF/2020: “Fraternidade e Vida: dom e compromisso”.
Bispo de Leopoldina (MG)