Coronavírus, covid-19 e suas lições
De repente um micróbio – não estou a falar como biólogo ou médico, mas como homem comum, um leigo – um “serzinho” invisível aos nossos olhos gera um medo, um mal-estar em todo mundo, deixa reféns a todos nós. A doença provocada é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, sediada em Genebra, uma pandemia. Espalha-se por toda parte o medo, mais um a nos assediar além do medo do desemprego, de se tornar invisível entre os iguais, do ladrão, do trânsito, da guerra nuclear. É mais um “medo líquido” – segundo feliz expressão de um sociólogo polonês recentemente falecido – a entrar para uma longa lista atual de nossos medos e fobias. Não nos esqueçamos, já se passaram décadas e muitos os séculos que a Igreja rogava a Deus nos protegesse da “fome, da guerra e da peste”. Esta última é nosso caso.
Estados contemporâneos orgulhosos de seus feitos, donos dos mais poderosos arsenais bélicos, com centenas e milhares de bombas armadas em misseis intercontinentais, com poder incrível de destruição, que deixariam sobreviver somente baratas e escorpiões, estão ajoelhados, como que derrotados, ante um simplíssimo e invisível animalzinho. Este, no muco nasal, na saliva de pessoa infectada e vai se instalando em tudo quanto é canto e, por vivermos num mundo globalizado, sem passaporte e bilhete, de carona, vai da China a se instalar em mais de cem países, contamina cinco continentes.
O vírus se propaga, mas escolhe entre seus “clientes fatais”, as suas grandes vítimas, os velhos, os fragilizados pela baixa imunidade.
O coronavírus não só ataca a saúde das pessoas, mas também afeta poderosas instituições. A sociedade contemporânea vive da expectativa de lucros, ou se desejarmos, vive da força da ambição injetada no coração humano. As bolsas de valores despencam vertiginosamente no mundo inteiro. As poderosas indústrias petrolíferas, as companhias de aviação amargam grandes prejuízos. Os aplicadores não sabem o que fazer com as oscilações contínuas de suas ações.
Os estados começam a decretar, ante o grande risco de não poder atender nos hospitais os casos mais graves, uma necessária “prisão domiciliar”, vetam espaços públicos, passeios, teatros, cinemas e as saídas sem um grave motivo: trabalhar se possível em casa, comprar o pão de cada dia, o remédio e, quando não tem mais jeito, internar-se, sob recomendação médica num hospital.
Em situação tão desagradável somos chamados a reconhecer o valor de uma vida mais disciplinada, de atenção própria e de cuidado com os outros. De repente, você deve controlar seu modo de tossir, lavar cuidadosamente e com frequência suas mãos, não só para evitar adoentar-se, mas também para não se tornar propagador do covid-19. Eu diria, que somos chamados a adquirir imediatamente alguns bons hábitos: a maneira de tossir, a frequência e o modo de lavar as mãos, a maneira de cumprimentar, de saudar os semelhantes.
As lições deste momento angustiante vão além, convidam-nos a reconhecer a nossa interdependência, até mesmo a nível nacional, supranacional, intercontinental. Há uma corresponsabilidade geral que pode, como bom efeito, gerar uma “cultura” de solidariedade global. Com alegria vi a notícia de ajuda chinesa a países europeus. Mais que solidariedade, somos instados a redescobrir o sentido da fraternidade. Um simples vírus pode estar levando a inteira comunidade humana a escrever uma história mais bonita. Resta, assim penso, para os cristãos, uma responsabilidade maior na construção da tão sonhada “civilização do amor”, “cultura” da solidariedade e da fraternidade, porque continuamente rezamos o PAI NOS