Não faz bem viver totalmente isolado, enclausurado e sem comunicação com quem transita nos arredores. A prática de Jesus era bem diferente, porque Ele ia ao encontro das pessoas, principalmente de quem estava na condição de marginalizado por causa de suas deficiências. O diálogo sadio pode construir realidades novas e abrir caminhos para a superação desse tipo de sofrimento.
O isolamento maior, e muito pior, é quando a pessoa, marcada por uma aridez de atitudes, fica distante da presença divina. Deus está sempre ao seu lado, mas supõe abertura da mente e do coração para acolhê-Lo no trajeto normal da vida. Muitos alimentam uma ansiedade sem limites e nunca se satisfazem com o que são e nem com o que têm, porque falta um diálogo filial com Deus.
A realidade familiar dos dias de hoje expressa claramente uma crise de proximidade, porque não adiante estar morando debaixo de um mesmo teto, ou viver numa mesma comunidade, se as pessoas não conseguem criar espaços para uma fraterna convivência e diálogo. Essa proximidade só consegue acontecer quando houver esforço e renúncia de cada um de seus membros.
Sabemos pela Sagrada Escritura que Jesus, além de ir ao encontro das pessoas e criar diálogo com elas, como fez com aquela samaritana no poço de Jacó (Jo 4,6ss), Ele está sempre na espera de ser procurado por quem vive com a vida vazia, sem sentido e desanimado, para preencher as suas necessidades. Muitos se deixam engolir pelas tribulações, pela dor e por tragédias, sem esperança.
Na prática estamos vendo uma sociedade cada vez mais polarizada, de um lado formada por pessoas ricas e poderosas, e de outro, os mais fragilizados, com muita dificuldade para dialogar e criar proximidade. Falta o essencial para que exista uma realidade mais humanizada, onde a vida tem verdadeiro sentido. Mas isso é quase impossível sem abertura a um diálogo transversal com Cristo.
A Campanha da Fraternidade deste ano reflete o tema “Fraternidade e vida, dom e compromisso”. No lema fala das atitudes de proximidade, porque mostra a prática do bom samaritano, que chega, vê a pessoa machucada caída na estrada, tem compaixão, aproxima-se, cura suas feridas e cuida dela. Ele se fez próximo de quem estava totalmente abandonado e caído pelo chão.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.