Dignidade perdida
A partir da consulta de algum dicionário, pode-se dizer que “a dignidade baseia-se no reconhecimento da pessoa digna de respeito”. Realmente é uma necessidade emocional presente na vida de cada ser humano, podendo ter reconhecimento público de se ter feito bem as coisas. Essa dignidade não pode ser perdida, porque é ela que dá sustentação e fundamento para firmeza na esperança.
Ninguém pode viver perdido na vida, e muito menos sem dignidade. O sentido real do bem viver está centrado nos encontros que acontecem com o outro e com Deus. Muitas pessoas recuperam a dignidade no contato e no exercício das propostas de Jesus Cristo. É o caminho da justiça e da verdade. Um itinerário com marcas de falsidade e irresponsabilidade conduzem à perda da dignidade.
A pessoa humana, desde seu nascimento, está sujeita à intervenção divina e vai sendo modelada e fortalecida como ser vivente. Não há vida e dignidade sem Deus. Isso pode ser perdido na medida em que aparecem as crises existenciais, que trazem como consequências desastrosas uma profunda desarmonia interior e muitas dificuldades nas relações de convivência e fraternidade.
Na Carta aos Romanos, Paulo mostra a existência da morte e da vida, representado pelas pessoas de Adão e Jesus. Enquanto Adão é identificado como provocador de desarmonia, da perda de dignidade e da morte, Jesus faz um caminho inverso para recuperar o que o povo de Deus tenha perdido, isto é, a dignidade da vida e a sua capacidade de relacionamento com Deus (cf. Rm 5,12-19).
A dignidade perdida representa esvaziamento de tudo àquilo que é capaz de dar real sustentação para a existência humana. É realidade que atinge a vida física, a psicológica e a espiritual das pessoas. Assim elas fazem uma história sem conteúdo, vazia, sem sentido e sem saber para onde estão caminhando. Esse vazio precisa ser preenchido e dar verdadeira sustentação para a esperança.
O mundo tem muitos sinais visíveis de morte e de vida. É justamente nesse meio que as pessoas vivem, mas sofrendo todos os tipos de ataques e conflitos, ou mesmo de tentações. Acabam sendo fragilizadas perante os confrontos. Nessa situação, o ser humano precisa entender seus limites e confiar na ação de Deus. Não existe dignidade adquirida apenas com as possibilidades humanas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.