No encerramento do Ano Santo da Misericórdia (2015-2016), o Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, no Domingo que antecede a Solenidade de Cristo Rei. O objetivo do Dia Mundial dos Pobres é reavivar na Igreja um elemento requintadamente evangélico, isto é, a predileção de Cristo pelos pobres, a fim de que as comunidades cristãs sejam sempre mais e melhor um sinal concreto da caridade de Jesus pelos pobres, os marginalizados e os excluídos.
Por sermos membros da Igreja, nós necessitamos de conversão em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, sermos sensíveis às suas carências materiais e espirituais, que são cada vez mais amplas, pois os pobres são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo e de tocar a Sua Carne sofredora. Deste modo, para que possamos superar a tentação da indiferença em relação aos pobres e intensificar a consciência de que “não podemos pensar nos pobres apenas como destinatários duma obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz” (Papa Francisco, Misericordia et Misera, nº 3), o Santo Padre, o Papa Francisco, em fidelidade ao Evangelho, tem insistido no “vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres”. (Evangelii Gaudium, nº 48). Ficar surdo ou indiferente ao clamor dos pobres coloca-nos na contramão da vontade do Cristo e de Seu projeto libertador e, por isso, cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e da promoção dos pobres”. (Evangelii Gaudium, nº 187).
O Dia Mundial dos Pobres pretende estimular, em todos nós, uma reação concreta à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro na defesa da nossa casa comum. Ao mesmo tempo, é um convite dirigido a todos para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, exercitando as obras de misericórdia. “Portanto, somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma”. (Papa Francisco, Misericordia et Misera, nº 3).
O lema do III Dia Mundial dos Pobres é “ a esperança dos pobres jamais se frustrará”. (Sal 9, 19). Em sua Mensagem para este III Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco nos recorda que, “por vezes, basta pouco para restabelecer a esperança: basta parar, sorrir, escutar. Durante um dia, deixemos de parte as estatísticas; os pobres não são números, que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoas a quem devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão de convidar a entrar em casa para partilhar a refeição; homens, mulheres e crianças que esperam uma palavra amiga. Os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto de Jesus Cristo”.
Quando crescemos na fé e no aprendizado da santidade, nós percebemos que a primeira das bem-aventuranças é reservada para os pobres. “Felizes vós, pobres, porque vosso é o Reino dos Céus”. (Lc 6, 20). Pobres são todos aqueles que não têm o mínimo necessário para sobreviver e, por isso, dependem da nossa ação caritativa. Pobres são os refugiados que são obrigados a deixar a sua terra à procura de novas oportunidades de sobrevivência, são as vítimas de tantas formas de violência, são os oprimidos, os escravizados e inúmeras pessoas sem emprego, sem abrigo e sem teto que vagueiam pelas periferias de nossas cidades revirando as lixeiras à procura de sobras de alimento e recolhendo aquilo que descartamos. Diante de tantos sinais de indiferença, nós não podemos fechar os nossos olhos, pois o amor de Cristo nos impele a sanar as necessidades dos pobres com a consciência de que o próprio Cristo faz questão de se identificar com os pobres: “O que fizestes a um destes irmãos, é a Mim que fazeis! ”. (Mt 25, 40).
Que o forte clamor do Dia Mundial dos Pobres nos ajude a realizar sempre mais gestos significativos de misericórdia em relação aos pobres, dando concretude à tão falada opção preferencial da Igreja pelos pobres. Que o Cristo nos conceda a graça de percebermos que “os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho”. (Papa Francisco, Misericordia et Misera, nº 9). De um modo especial, peçamos ao Cristo a consciência de que os pobres podem nos ensinar muitas coisas, em especial, a humildade e a confiança em Deus. Que o Cristo, que por amor a nós se fez Pobre, nos ensine a servir aos pobres e a perceber neles a dignidade da vida humana.
Que em nossa Arquidiocese, paróquias e comunidades haja sempre mais uma grande sensibilidade em relação aos pobres e que Senhor Jesus nos ajude a edificar diversas organizações para a prática da caridade e da misericórdia para com os pobres do nosso país, da nossa cidade e das diversas periferias do mundo.
Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús)