Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro 

 

No 33º Domingo do Tempo Comum, penúltimo domingo do ano liturgia, neste ano, no dia 17 de novembro celebramos o III dia mundial dos pobres. Esta foi uma feliz iniciativa e uma convocação do nosso querido Papa Francisco, pedindo a todo mundo e principalmente ao orbe católico que tenha um olhar para com e com os mais necessitados, ou seja, os pobres.

Em nossa Arquidiocese, além da Semana de Solidariedade(que antecede o dia), estendemos as iniciativas desde o dia 09 de novembro quando iniciamos a reflexão em favor dos pobres com a realização de um fórum com a presença das pastorais sociais e iremos até o dia 21 de novembro com os eventos arquidiocesanos, vicariais e paroquiais. Durante todos esses dias são inúmeras atividades em todos os campos que nos ajudam a aprofundar os caminhos para uma verdadeira justiça social. Dessa forma estamos aprofundando, celebrando e nos comprometendo com o tema do dia mundial dos pobres: com essa preocupação de como entender, trabalhar e dar passos concretos tanto como Arquidiocese, como tanto Vicariatos e como paróquias. No domingo, dia 17 de novembro, dia mundial dos pobres, teremos na Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro um café da manhã, como ocorre todos os domingos para os moradores em situação de rua, e, depois, um encontro com eles. Iremos celebrar a Santa Missa às 10hs, na Catedral, seguido de um almoço com os mesmos. É a nossa oportunidade de ver e de chamar a atenção da sociedade para com esta desigualdade social tão premente, tão grande (aumenta cada vez mais) em nossa cidade, no Brasil e no mundo todo. Fica clara a nossa responsabilidade de exortarmos as autoridades e a sociedade para que este mundo seja diferente e nós, enquanto cristãos, fazermos a nossa parte.

A cada ano temos uma mensagem enviada pelo Papa e publicada para este dia. Neste ano, o tema da mensagem é: “A esperança dos pobres jamais se frustrará”. O Papa com este tema, menciona o Salmo 9, 19: “A esperança dos pobres jamais se frustrará” (Sal 9, 19). Estas palavras são de incrível atualidade. Expressam uma verdade profunda, que a fé consegue gravar sobretudo no coração dos mais pobres: a esperança perdida devido às injustiças, aos sofrimentos e à precariedade da vida será restabelecida.

Alguns pontos da mensagem: “contexto descrito pelo salmo tinge-se de tristeza, devido à injustiça, ao sofrimento e à amargura que fere os pobres. Apesar disso, dá uma bela definição do pobre: é aquele que «confia no Senhor» (cf. 9, 11), pois tem a certeza de que nunca será abandonado. Na Escritura, o pobre é o homem da confiança! E o autor sagrado indica também o motivo desta confiança: ele «conhece o seu Senhor» (cf. 9, 11) e, na linguagem bíblica, este «conhecer» indica uma relação pessoal de afeto e de amor. Encontramo-nos perante uma descrição verdadeiramente impressionante, que nunca esperaríamos. Assim faz sobressair a grandeza de Deus, quando Se encontra diante de um pobre. A sua força criadora supera toda a expetativa humana e concretiza-se na «recordação» que Ele tem daquela pessoa concreta (cf. 9, 13). É precisamente esta confiança no Senhor, esta certeza de não ser abandonado, que convida o pobre à esperança. Sabe que Deus não o pode abandonar; por isso, vive sempre na presença daquele Deus que Se recorda dele. A sua ajuda estende-se para além da condição atual de sofrimento, a fim de delinear um caminho de libertação que transforma o coração, porque o sustenta no mais profundo do seu ser”.(cf. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/papa-francesco_20190613_messaggio-iii-giornatamondiale-poveri-2019.html, último acesso em 14/11/2019)

O Papa pede incessantemente que a Igreja se aproxime dos mais pobres: “Ao aproximar-se dos pobres, a Igreja descobre que é um povo, espalhado entre muitas nações, que tem a vocação de fazer com que ninguém se sinta estrangeiro nem excluído, porque a todos envolve num caminho comum de salvação. A condição dos pobres obriga a não se afastar do Corpo do Senhor que sofre neles. Antes, pelo contrário, somos chamados a tocar a sua carne para nos comprometermos em primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização. A promoção, mesmo social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do Evangelho; pelo contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica. O amor que dá vida à fé em Jesus não permite que os seus discípulos se fechem num individualismo asfixiador, oculto nas pregas duma intimidade espiritual, sem qualquer influxo na vida social (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 183)”.  (cf. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/papa-francesco_20190613_messaggio-iii-giornatamondiale-poveri-2019.html, último acesso em 14/11/2019)

“A opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora» (ibid., 195), é uma escolha prioritária que os discípulos de Cristo são chamados a abraçar para não trair a credibilidade da Igreja e dar uma esperança concreta a tantos indefesos. É neles que a caridade cristã encontra a sua prova real, porque quem partilha os seus sofrimentos com o amor de Cristo recebe força e dá vigor ao anúncio do Evangelho. O compromisso dos cristãos, por ocasião deste Dia Mundial e sobretudo na vida ordinária de cada dia, não consiste apenas em iniciativas de assistência que, embora louváveis e necessárias, devem tender a aumentar em uma aquela atenção plena, que é devida a toda a pessoa que se encontra em dificuldade. «Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação» (ibid., 199) pelos pobres, buscando o seu verdadeiro bem. Não é fácil ser testemunha da esperança cristã no contexto cultural do consumismo e do descarte, sempre propenso a aumentar um bem-estar superficial e efémero. Requer-se uma mudança de mentalidade para redescobrir o essencial, para encarnar e tornar incisivo o anúncio do Reino de Deus”. (cf. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/papa-francesco_20190613_messaggio-iii-giornatamondiale-poveri-2019.html, último acesso em 14/11/2019)

A responsabilidade da Igreja para que realmente os pobres tem de esperança possa contar além da responsabilidade dos governantes, da sociedade, os pobres possam, sobretudo, contar com a presença e o trabalho da Igreja Católica, que faz uma clara opção preferencial pelos pobres.

Contudo, com gestos concretos de solidariedade vamos olhar para aqueles que sofrem, aqueles que se encontram na periferia da existência humana. Olhemos para os pobres, pois, eles são “os mestres e senhores” (São Vicente de Paulo). Como dizia o Patrono da caridade: “ dez vezes irão aos pobres e dez vezes encontraram a Deus” (São Vicente de Paulo).