O Concílio Vaticano II, 21.º dos Concílios Ecumênicos ou Universais, é um dom de Deus, uma graça especial do Espírito Santo. Que o Divino nos ilumine a todos para aproveitarmos, quanto possível, as riquezas espirituais, sociais e humanas que nos oferece aquela assembléia universal, celebrada em etapas anuais de 1962 a 1965. As inovações e aberturas do Vaticano II cremo-las guiadas pelo Espírito do Amor Substancial da santíssima Trindade que é o Espírito Santo.

Lendo, pausada e atentamente, os seus 16 documentos, com fé e amor sinceros, muito havemos de lucrar, não só em proveito pessoal e em bem do apostolado individual e coletivo.

Muitas afirmações negativas com relação a este Concílio vão se espalhando, infelizmente de boca em boca e pela imprensa, desvirtuando-o, desfigurando-o, atribuindo-lhe ensinamentos e atitudes absurdas, em nada condizentes com sua puríssima objetividade. E como o negativo é o mais bradante, também ele o que mais impressiona.

Nos seminários os alunos são levados a estudarem, cuidadosamente, estes especialmente em vista o Motu-próprio Eclesiae Sanctae, de 6 de agosto de 1966, com que o Paulo VI organizou e pôs em execução tais importantíssimos documentos. O próprio saudoso Pontífice Paulo VI, em suas mensagens e homilias, interpretou grandemente o Vaticano II. E sua Santidade João Paulo II vem fazendo o mesmo em suas pregações e doutrinamentos. Os comentários dos Papas, com a chancela de segurança e autenticidade, bem como de outros autores categorizados, os seminaristas do curso teológico aprendem nas aulas e apresentam, depois, por escrito o fruto de suas lucubrações, e empenhadamente se dão a variadas pesquisas.

Todos os Sacerdotes, se ainda não adquiriram, devem adquirir o Concílio Vaticano II. Para a Igreja, este é um Livro por excelência a ser manuseado pelos Sacerdotes, religiosos e Religiosas, de contínuo, esforçando-se por assimilá-lo. Aos movimentos específicos de apostolado constituídos de homens e mulheres, como o dos Cursilhistas, do Movimento Familiar Cristão, de jovens de ambos os sexos Emaús, Shalom, Treinadores de líderes Cristãos (TLC), como de outros, tão apreciados e beneméritos, os aconselhamos a possuírem exemplares dele.

Copiosas desinformações sobre nosso Concílio, veiculadas sobretudo, pela imprensa, termo desfigurado tristemente. Certas pessoas capazes, e creio que bem intencionadas falam mal do Concílio. Até Padres Religiosas e Religiosos o desmerecem. Leiam, leiam o Vaticano II e nele verão o dedo de Deus, a ação do Espírito Santo.

Num discurso a nós Padres Conciliares, dia 18 de novembro durante o último período do Concílio, esclareceu Paulo VI: "A Igreja conforma-se às novas normas dadas pelo Concílio: são normas fiéis, são normas insignes pela novidade duma consciência mais perfeita da comunhão na Igreja, da sua admirável estrutura, da sua caridade mais ardente que deve unir, ativar e santificar a comunhão hierárquica da Igreja" (Concílio Vaticano II - constituições, Decretos, Declarações. São Paulo, Paulinas, 1967, p. 599).

No dia 7 de dezembro de 1965, na Brasílica de São Pedro, em longa e esclarecedora mensagem, assim nos falava Paulo VI: "Veneráveis Irmãos. Concluímos hoje o Concílio Ecumênico Vaticano II e concluímo-lo na plenitude do seu vigor e da sua eficiência (...) Este nosso Concílio deixará à posteridade a imagem da Igreja que esta Aula [Assembléia] representa, assim repleta de pastores que professam a mesma fé, e respiram a mesma caridade; que estão unidos pela comunhão de oração, de disciplina, de entusiasmo; como isto é maravilhoso todos desejarem uma só coisa: oferecer-se como Cristo, nosso Mestre e Senhor, pela vida da Igreja e pela salvação do mundo.

O Concílio, porém, não deixa apenas à posteridade a imagem da Igreja, mas também (sublinho) o patrimônio da sua doutrina e dos seus mandamentos, isto é, o depósito que Cristo lhe confiou; depósito que, no decurso dos tempos, os homens sempre meditaram, transformaram, por assim dizer, no próprio sangue e exprimiram de algum modo no seu viver; depósito que, agora, aclarado em muitos pontos, foi estabelecido e ordenado na sua integridade (...). Podemos confessar que demos glória a Deus, que buscamos o seu conhecimento e o seu amor, que adiantamos no esforço da sua contemplação, na ânsia da sua celebração, na arte de o dar a conhecer aos homens que nos olham como pastores e mestres dos caminhos do Senhor? (...) Foi neste tempo que se celebrou o nosso Concílio para a glória de Deus, em nome de Cristo, com a inspiração do Espírito Santo que tudo perscruta e que continua a ser a alma da Igreja (...) Mercê deste Concílio, a doutrina teocêntrica e teológica sobre a natureza humana e sobre o mundo, atrai assim a atenção dos homens, como se desafiasse aqueles que a julgam anacrônica e estranha; e tais coisas se arroga que o mundo qualificará, de início, como absurdas, (sublinho) mas que depois, assim esperamos, reconhecerá espontaneamente como humanas, como prudentes e salutares, a saber: Deus existe. Sim, Deus é; realmente existe; vive, é pessoal; é providente, dotado de infinita bondade, não só bom em Si mesmo, mas imensamente bom para nós (...). A Igreja, entrando em si mesma, penetrou no íntimo da sua consciência, não para se comprazer em eruditas análises sobre a psicologia religiosa (...) fez isto para encontrar em si a palavra de cristo, viva e operante no Espírito Santo (...). O humanismo laico e profano apareceu, finalmente, em toda a sua terrível estatura, e por assim dizer desafiou o Concílio para a luta (...). Vós humanistas do nosso tempo, que negais as verdades transcendentais, daí ao nosso Concílio ao menos este louvor e reconhecei (sublinho) este nosso humanismo novo:: também nós e mais do que ninguém somos cultores do homem (...) Tocamos muito de corrida tantos e tão complicados problemas relativos ao bem-estar humano, de que o Concílio se ocupou; (sublinho) nem o Concílio pretendeu resolver todas as questões mais urgentes da vida atual (...). Mas convém notar uma coisa: o magistério da Igreja, embora não tenha querido pronunciar-se com sentenças dogmáticas extraordinárias sobre nenhum capítulo doutrinal, propôs, todavia, o seu ensinamento autorizado acerca de muitas questões que hoje comprometem a consciência e a atividade do homem. Por assim dizer, a Igreja baixou a dialogar com o homem (...) A Igreja declarou-se quase a escrava da humanidade, precisamente no momento em que tanto o seu magistério eclesiástico com o seu governo pastoral adquiriram maior esplendor e vigor devido à solenidade conciliar: a idéia de serviço ocupou o lugar central (sublinho) (...) no rosto de todo o homem, sobretudo se se tornou transparente pelas lágrimas ou pelas dores, devemos descobrir o rosto de Cristo (...); o nosso humanismo muda-se em cristianismo, e o nosso cristianismo faz-se teocêntrico, de tal modo que podemos afirmar: para conhecer a Deus é necessário conhecer o homem (Concílio Vaticano II - constituições, Decretos, Declarações. São Paulo, Paulinas, 1967, cf. pp. 601-608).

LOUVOR DE JOÃO PAULO II A PAULO VI

Ao ler no L'Ossvervatore Romano (edição portuguesa de 3 de outubro de 1982) estes justos encômios de João Paulo II, ao seu antecessor ao inaugurar, dia 26 de setembro de 1982, em Bréscia o "Instituto Paulo VI": "A Igreja, fiel ao Senhor, mantém-se sempre idêntica a si mesma; mas a Igreja, continuamente impelida pelo amor e para com o Senhor, não cessa nunca de aprofundar a consciência de si mesmo. Quanto mais conhece o desígnio divino e com ele se ajusta, tanto mais se renova e pode cumprir de modo mais eficaz a missão no mundo que lhe confiou Cristo. Foi este o providencial programa do Concílio Vaticano II, que Paulo VI guiou até ao encerramento e do qual foi o primeiro anunciador e executor. Nunca faremos idéias suficiente dos problemas e das dificuldades que teve de enfrentar, para a identidade da Igreja não ser transformada por uma mal entendida "transformação". Não agradecemos nunca devidamente a Cristo Senhor ter escolhido Paulo VI para guia da mística barca de Pedro, em anos quando as ondas a agitavam de todos os lados" (pp. 5s).

Todos precisamos, em verdade, de leal humildade para aceitar o que de novo e construtivo na Igreja, ainda que tal mudança nos exija algum sacrifício, visto estarmos já acomodados às coisas do "passado". Longe de significar amor à Igreja, um apego absoluto e irremovível a tudo que de tradicional na prática eclesial, encerra, antes, algo de orgulho, mesmo inconsciente.

Amar pois, a igreja amando o Concílio Vaticano II, nascido de seu coração de Mãe, e iluminado pelo Espírito Santo. amar o Concílio, estudando-o sempre e aproveitando-o sempre, em bem pessoal e dos irmãos.