Ganhando ou perdendo a Copa, uma coisa é certa, a cidade vai ficar um lixo: ruas, postes de iluminação, árvores, muros, paredes, calçadas, igarapés, praças, tudo vai ficar sujo. E, as marcas da sujeira vão demorar para desaparecer. As comemorações, particulares ou públicas, cívicas, esportivas, folclóricas, não respeitam, nem preservam o patrimônio público. É cultural jogar lixo e água servida na rua, nos igarapés, praças e calçadas. Se as autoridades investissem em mudar esse comportamento, economizariam muito dinheiro para investir na educação e saúde. Nenhum cidadão da classe média para baixo quer gastar dinheiro para fazer em seu terreno um sumidouro de águas servidas. Prefere jogá-las na rua, e, onde não tem esgoto, fura o asfalto, criando poças de lama, com mais o lixo jogado nas calçadas, cria-se o cenário típico de comunidades medievais.

Este cenário é criado pela falta da autoestima e de informação. Se as pessoas valorizassem mais a si mesmas, criariam em volta de si, um mundo também mais valorizado. Igarapés limpos, praças e calçadas limpas e ajardinadas. Ao contrário, a frustração existencial por não serem ou não terem o que gostariam de possuir, as faz criarem uma imagem muito negativa de si mesmas. Algumas "odeiam" ou "rejeitam" a si mesmas. E o resultado desse sentimento subjetivo de frustração existencial, é a destruição do mundo que gira em volta delas.

O cenário caótico de destruição do patrimônio público, também é conseqüência da ausência da autoridade pública fiscalizando, orientando, expedindo multas, para criar uma consciência de cidadania, isto é, criar a consciência de que o patrimônio público: calçadas, praças, ruas, igarapés, pertencem a todos, são a extensão da nossa casa, é por onde andamos a pé ou de carro; é onde fazemos o nosso lazer nos finais de semana: passeado com as crianças, praticando esportes, fazendo caminhadas, reunindo os amigos. Essa consciência também deve ser levada à escola pública. Todos os anos o poder público desperdiça recursos recuperando carteiras, salas de aula, banheiros, que foram semidestruídos pelos alunos.

A consciência de que o patrimônio público é um bem indispensável para a vida de todos, deve levar o poder público a proibir a ocupação das calçadas pelos moradores, com lixeiras, rampas de garagem, telhados: apropriações indevidas. Existem lugares em que as pessoas ocuparam literalmente as calças com telhados para seus bares, lanches, cafés-da-manhã, barracas. Na Praça da Saudade, recentemente inaugurada, na rua Simon Bolivar, esquina da Epaminondas, tem um prédio antigo com bares e lanchonetes que ocupam toda a calçada. Só se consegue transitar pela rua. Além disso, o aspecto é de favela, em frente a uma das praças mais tradicionais da cidade. Onde está o poder público?

Muitas áreas que foram desapropriadas com dinheiro público, já foram anexadas por moradores próximos do local. É o caso do proprietário do imóvel ao lado da Ponte de Educandos, lado oposto ao Teatro Chaminé. Ele estendeu o seu domínio cercando com muro a área pública até a calçada da Av. Manaus Moderna. Essa prática é comum no Igarapé da Cachoeirinha, ao longo das obras do Prosamim. Retirada a favela, tudo aterrado, os proprietários dos imóveis remanescentes, estão estendendo os seus domínios até a calçada de apenas 80 centímetros de largura. Toda a área já beneficiada pelo projeto que passou a integrar o patrimônio público está sendo anexada, inclusive com prédios de dois ou três andares, pelos moradores remanescentes. Onde está a equipe do projeto Prosamim? Em pouco tempo, toda a área beneficiada estará incorporada pelos moradores do local, restando apenas uma calçada de 80 centímetros para a população transitar. Se não houver fiscalização e orientação sobre a importância de preservação do patrimônio público, como um bem necessário à vida de todos, a população ou se apropria ou destrói. É preciso educação e informação, mas isso, só as autoridades tem poder para fazer.

Paulo Pinto é pároco.