por Mauro José Ramos

A procissão havia sido marcada para a hora da tarde, para que o sol também pudesse participar. Veio muita gente. Homens e mulheres empunhados de ramos, crianças e fé.

As nuvens, que nem de longe foram convidadas para este momento, também vieram. Já haviam participado da missa pela manhã. Mas beatas que são, não perdem uma procissão. E não vieram sozinhas, sentiram se no direito de trazer as suas amigas. Com isso, não teve lugar para o sol.

Iniciou a procissão. Cantos, vestes, liturgia e religiosidade. Tudo era belo. A passos idos, as nuvens, comovidas pelo rito, começaram a chorar, primeiro as beatas, depois as amigas.

Naqueles instantes os ramos foram se transformando em sombrinhas e guarda-chuvas e o que era verde ficou colorido. Mas não adiantou. O derrame de lágrimas era tão grande que tudo molhou. Os folhetos desfaziam. As vestes mudavam de cor. O canto se transformou em riso. E as crianças brincavam de chutar poças d'água. Garanto que naquele momento Jesus desceu do burrico e foi, também, brincar de se molhar. Era uma procissão só de crianças, era uma procissão só de festa, de alegria. Lavamos a alma!