por Mauro José Ramos

O ônibus já se despedia do terminal rodoviário, com o ronco intranqüilo do motor. Havia cumplicidade do mar na despedida do dia. O reflexo da água acolhia a noite. E da janela do ônibus a menina olhando fixo o mar; se despedia de alguma coisa.

Uma lágrima, apenas uma desceu sensivelmente pelo rosto. Desprendeu-se angustiosamente do olho e rolou delicada pela face triste da garota, até se perder na obscura penumbra que o momento exigia. A lágrima se despediu do olhar.

Lá fora o Mar, apenas testemunha dos desencontros. Dentro ônibus, outro mar, refletido na retina úmida daquela criança. O que está fora assumiu para si a maior parte das águas. A que está dentro, as lágrimas.

Por um longo tempo ambos falaram de si mesmos através da linguagem do silêncio. Estavam apaixonados um pelo outro. Ela pela liberdade de expressão dele. Ele, pela expressão do olhar dela.

Apenas o vidro os separava. E tudo mais os agregava. O sol que deixara no céu apenas flexes de sua estada, não quis se intrometer. A lua, que ganhava vigor vendo-se refletida nas águas e nas lágrimas, apoiava! Mas, nem o sol e nem a lua entenderam o que estava acontecendo. Era uma despedida. A menina e o mar se encontraram naquele final de semana. Trocaram carícias, confidenciaram intimidades... Mas o prazer do encontro não lhe deram tempo de dizer adeus.

A lágrima dela, era uma tentativa de dizer prá ele, que dentro dela havia ficado uma centelha de suas águas.