por Mauro José Ramos

O preço do progresso as vezes é muito alto. Triste é ver pessoas no lugar de animais arrastando carros de madeira pela rua. As esquinas das metrópolis denunciam. Meus olhos vêm, meu coração chora. E só.

Muitas são as carroças carregadas de papelão, que disputam espaço com os carros carregados de gente. O papelão é um artigo caro no mundo do mercado. E a gente? Quanto custa para o mercado do mundo?

Num desses carros de papelão, madeira e sobrevivência presenciei um pouco, ou um muito de paraíso. Um pai servindo de tração e um filho servindo de carga em meio a plásticos, papéis, latas e lixo. Que luxo!

O pai, um homem ainda menino, de dorso nú e molhado de trabalho, descia pela noite levando para casa o fruto do seu suor e o motivo de sua luta. O filho, um menino ainda menino, de dorso nú e molhado de brisa, deslizava pela rua da hora, levando para a vida, a eternidade daquele momento.

E eu, do ônibus, registrando com a objetiva do olhar e da memória, a poesia da miséria. Poesia ou inveja? Absolutamente inveja. Sim, inveja da poesia, de uma poesia sem miséria. Inveja da poesia gerada pela minha própria miséria.

De fato, o preço do progresso é muito alto. O ônibus é o preço que tenho que pagar. O ônibus é a minha miséria. E o olhar? Ah, só o olhar é a minha poesia!