Existe seminarista e seminarista. Muitos são os que poderíamos chamar de seminaristas, mas que na verdade não o são. Hoje mais do que nunca, faz-se necessário que abandonemos de uma vez por todas o nível das aparências. Há seminaristas que o são por vocação. Há seminaristas oportunistas ou ocasionais, que não são verdadeiros seminaristas. A propósito, conheço uma capital do Sul do Brasil, que muitos chamam de "Roma brasileira". No entanto, a maioria dos que aí vivem não conseguem fazer tais distinções, sendo misericordiosos demais para com todos os que levam o nome de seminarista.

Meu desejo é falar-lhe do verdadeiro seminarista, daquele que, se as notícias que nos cheguem são verídicas e exatas, está buscando corresponder a um chamado de Deus para servir o seu povo de maneira específica. O próprio nome revela sua identidade: são realmente sementes. Uma vez lançadas ao solo, estão para morrer e dar vida. Toda semente possui em si uma vida, que é comunicada. Com o homem vocacionado, a fecundidade transcendental se dá do mesmo modo; caso contrário, esgotam-se as possibilidades humano-divinas, os dons, e chegam as misérias e com elas provavelmente a perda de sentido de toda uma vida. Se ela apodrece, minguam as possibilidades do ser e não se vive a razão de uma verdadeira existência. De repente, sucede a mesma coisa que aconteceu com o atleta que, para participar mais descansado das Olimpíadas, entrou em férias e deixou de treinar durante esse período, obtendo resultados desalentadores.

Hoje se fala de crise de identidade, de crise de vocações e de crise de formação. Há muita gente deixando os seminários, tanto os católicos como os protestantes, e a maioria expressa uma razão de fundo que nos faz pensar: "Eu não tinha vocação".  Entrar em crise é um processo normal de quem se encontra num processo de formação, porém a não ultrapassagem desse momento histórico já é uma incapacidade, que pode resultar tanto da personalidade do indivíduo quanto do processo formativo.

"Nem tudo pode ser perfeito, nem tudo pode ser bacana". Diz-se que os ex-seminaristas não tinham vocação. Sinceramente, não acredito nessa afirmação, pois, de modo geral, não é o motivo real de uma saída. Para alguns isso pode ser verdadeiro, mas com a maioria acontece que não foram cultivados ou não se deixaram cultivar, esquecendo que são sementes e que uma semente requer alguns cuidados para crescer adequadamente. Abandonemos de uma vez por todas certos comentários, tais como: "estes caras deram o nó na Igreja, entraram no seminário já pensando em sair". Por vezes, os que saíram tinham boas intenções e não lhes faltavam propósitos. Mas lhes faltou perseverança. Mesmo que perseverassem, não chegaram a perseverar de verdade. Esforçaram-se em perseverar durante algum tempo, talvez no Seminário Menor ou na Filosofia, porém não desenvolveram esse esforço no sentido de converter a idéia num ideal de vida. Com o passar dos anos, aqueles heróis são agora, como João Batista, caniço no deserto. Um dia caíram em si e perceberam que não era mais possível continuar. Ainda que os irmãos da comunidade lhes apontassem a certeza de que eles faziam mal em ir embora, não deixaram de partir. Daquele momento em diante, este tipo, o ex-seminarista, é para todos que o interrogarem um homem necessariamente sem vocação para as coisas de Deus.

Dos tempos idos recordo vivamente a crise de muitos irmãos de comunidade, e entre eles encontrei sempre alguns que eram como pára-raios e, apesar das dificuldades, não afrouxaram o cinturão, caminhando com firmeza, sem titubeios. É a estes que dedico o meu tempo.

O seminarista só o é verdadeiramente a partir do instante em que aceita ser semente nas mãos de Deus e de seus formadores. "Temos que florescer no lugar onde Deus nos semeou".

Com a mesma potencialidade da semente que rompe o solo, deveríamos libertar-nos de nossas misérias e buscar mais alto.

Sabemos que uma semente não precisa contar histórias para viver. Ela possui a vida em si. Assim, também nós fomos agraciados, porém nos habituamos a nos enganar a nós mesmos, vagando de reunião em reunião, de encontro em encontro, tentando dar razão a uma esperança para que muitos pensem que o essencial se escondeu para que o supérfluo entrasse de cara lavada, numa maior. Longe a idéia de aprovar o comportamento dos que seguem isso como norma de vida. De repente, tudo se faz "por debaixo dos panos". Entendamos de uma vez por todas que em termos de vida, tanto pessoal como comunitária, a radicalidade evangélica não é uma questão de temperamento, mas uma questão de identidade cristã.

Aos que deixaram o seminário, um apelo e uma recomendação. Um apelo para que demonstrem estima sincera pelos religiosos e pelas religiosas, ajudando-os e estimulando-os em sua vida de consagrados, colaborando em suas obras e atividades. Uma recomendação para que promovam e apóiem as vocações de especial consagração, não colocando nenhum obstáculo à ação divina; cuidem para que cada um responda com a máxima liberdade à própria vocação.

Aos que seguem perseverantes, que Deus os confirme em suas lutas diárias na vocação para a qual foram chamados. Recordo-lhes um dever de estado. Nós somos os primeiros promotores vocacionais. Lembrem-se de que não existe nenhuma vocação sem o apoio de alguém. Recordo-lhes isso porque, muitas vezes, temos pecado por omissão e, se continuamos "a ver barco passar", não estaremos isentos das conseqüências que advirão sobre nossas pessoas, sobre nossos Institutos e Congregações, assim como sobre toda a vida da Igreja. Partilhemos as preocupações do Papa e empenhemo-nos no apostolado vocacional "com um só coração e uma só alma" At 4, 32.

Voltemos o nosso olhar para Maria, que soube congregar, após a morte de seu Filho, aqueles que Ele havia chamado. A ela nos confiemos numa prece: Ave Maria.