O trabalho é nobre missão recebida de Deus. é, pois, plano de Deus, é vontade de Deus que o homem trabalhe.. no variadíssimo campo de atividade como trabalho braçal, profissional, ministerial, magisterial, intelectual, trabalho público ou particular desde que realizado segundo a ordem divina, ele dignifica o homem, enche-lhe nobremente os dias da vida, leva-o a promoção pessoal, ajuda o progresso da própria comunidade e da pátria, ou mesmo do mundo. O trabalho é, portanto, ordem de Deus. Foi por Ele estabelecido desde a criação do primeiro tronco humano: "Com o suor de teu rosto comerás o pão até que tornes ao solo, pois dele foste tirado" (Gn 3,19). Ele terá que cultivar a terra (cf. Gn 3,23).

O Verbo de Deus feito homem quis ter por mãe virginal uma mulher entregue a trabalhos domésticos, quis para sua guarda e pai adotivo um carpinteiro. E quando Cristo chega à idade juvenil, também Ele caleja suas mãos no trabalho, à imitação de José, com quem, como homem, aprenda. Na terra de sua moradia, Nazaré, ao ouvi-lo ensinar na sinagoga, numerosos ouvintes ficaram entusiasmados, dizendo: "e onde Lhe veio tudo isto? E que sabedoria é esta que Lhe foi dada. E como se fazem tais milagres por suas mãos?" E, desconhecendo-o como Filho de Deus revestido da natureza humana, põem em relevo o ofício que Ele praticava: "Não é este o carpinteiro, o filho de Maria?" (cf. Mc 6,1-3)

Em explicando o Verbo Encarnado sua identidade divina, serve-se da imagem do trabalhador: "o meu Pai é agricultor" (Jo 15,1) ele compara os corações a serem salvos pela evangelização apostolar, a uma colheita: "A colheita é grande, mas poucos os operários! Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para a sua colheita" (Mat 9,37-38; Lc 10,12). Jesus se diz o Bom Pastor que conhece as suas ovelhas, que dá sua vida por elas (Jo 10,11), que vai ao encontro da que se perdera e, encontrando, põe-na alegre, aos ombros e, de volta para casa, convida os amigos e vizinhos a se alegrarem com Ele (cf. Lc 15, 4-7). Começa, assim, uma parábola: "Um homem plantou uma vinha, cercou-a de uma sebe, abriu um lugar, construiu uma torre" (Mc 12,1). Compara o Reino dos céus a um pai de família que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Não foram todos logo de manhãzinha para este serviço: uns às seis horas, outros às nove, ou ao meio-dia, outros, por fim, de tarde. Os da primeira hora é que "suportaram o peso do dia e o calor do sol" (cf. Mt. 20,1-16).

Agricultura, pecuária, serviço operário, todas estas comparações a mover corações para a espiritualidade, Cristo aplicou-as poeticamente, em meio ao ambiente em que Ele vivia, honrando, assim, a dignidade do trabalho.

São Paulo dá pessoalmente bom exemplo de amor ao trabalho. Escreve aos seus evangelizados de Tessalônica: "Bem sabeis como deveis imitar-nos. Não vivemos de maneira desordenada em vosso meio, nem recebemos de graça o pão que comemos; antes no esforço e na fadiga, de noite e de dia, trabalhamos para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos direito para isto: mas foi para vos dar exemplo a ser imitado" (2Tess. 3,7-9). E dá-lhes esta regra de ouro do trabalho cristão, talvez provinda de uma palavra de Cristo, ou então de uma máxima popular: "Quando estávamos entre vós, já vos demos esta ordem: Quem não quer trabalhar, também não há de comer. Ora, ouvimos que alguns dentre vós levam vida à-toa, muito atarefados sem nada fazer. A estas pessoas ordenamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que trabalhem na tranqüilidade, para ganhar o pão com o próprio esforço" (2Tess 3.10-12).

À luz da fé, havemos de ter em conta a importância e a grandeza do trabalho, à imitação do Filho de Deus, que antes de ensinar, trabalhou, mostrando-se "humilde operário antes de se manifestar como o Senhor de todos os povos" (Pio XII, alocução aos trabalhadores italianos, de 13-6-1943: ASS 1943, pp. 172).

Quando em sua visita apostólica à nossa Pátria, João Paulo II teve um especial encontro com os operários em S. Paulo, dia 3 de julho de 1980. Vale a pena ler muitas vezes esta mensagem educadora e incentivadora de sua Santidade. Aqui, desejo repetir algumas de suas palavras, "Aí está o sentido desta nossa reunião de hoje, da nossa tarefa cristã. Sairemos daqui para a nossa tarefa de cidadãos e de trabalhadores com um novo entusiasmo; com uma consciência mais clara da nossa dignidade, dos nossos direitos das nossas responsabilidades (...) n. 3. Falo-lhes em nome de Cristo, em nome da Igreja, da Igreja inteira. É Cristo que envia a sua Igreja a todos os homens e a todas as sociedades, como uma mensagem de salvação. esta missão da Igreja realiza-se, ao mesmo tempo, em duas perspectivas: a perspectiva escatológica que considera o homem como um ser cuja destinação é Deus; e a perspectiva histórica que olha este mesmo homem em sua situação concreta, encarnada no mundo de hoje (...) n.4. Prossegue o papa: "A Igreja, quando proclama e, Evangelho, procura também obter, sem por isso abandonar o seu papel específico de evangelização que todos os aspectos da vida social, onde se manifesta a injustiça, sofram uma transformação para a Igreja", n. 5.

Falando do Espírito de pobreza, conclamado por Cristo no chamado Sermão da Montanha, frisa-o assim o Santo Padre: "aqueles que tem poses, devem adquirir o espírito de pobre, devem abrir o próprio coração aos pobres, pois, se não o fizerem, as situações injustas não mudarão (...). Os que não tem posses; os que se encontram em necessidade, devem também adquirir o "espírito de pobre", não permitindo que a pobreza material lhes tire a própria dignidade humana, porque esta dignidade é mais importante que todos os bens" (n. 11). Explica-o João Paulo II: "É neste contexto que a doutrina cristã sobre o homem, alimentada pelo Evangelho, pela Bíblia e por séculos de experiência, valoriza, de modo singular, o trabalho humano. A dignidade do trabalho. A nobreza do trabalho". E dirigindo-se peculiarmente aqueles operários, acrescentou João Paulo II. "Vocês conhecem a dignidade e a nobreza do próprio trabalho, vocês trabalham para viver, para viver melhor, para ganhar para suas famílias o pão de cada dia, vocês que se sentem feridos na sua afeição de pais e de mães ao verem os seus filhos mal alimentados, vocês que ficam tão contentes e orgulhosos quando lhes podem oferecer uma mesa farta, quando podem vesti-los bem, dar-lhes um lar decente e aconchegante, dar-lhes escola e educação em vista de um futuro melhor. O trabalho é um serviço às suas famílias e a toda a cidade, um serviço no qual o próprio homem cresce na medida em que se dá aos outros. O trabalho é uma disciplina em que se fortalece a personalidade", n. 12.

Orienta-lhes o Papa, dizendo que os trabalhadores não devem nunca se esquecer de quanta nobreza hão de, como cristãos, "imprimir ao seu trabalho, mesmo ao mais humilde e insignificante", n. 17. Consoladora e estimulante esta palavra do sumo Pontífice: "O trabalho associa vocês mais estreitamente à redenção que Cristo realizou na Cruz, quando os leva a aceitar tudo o que há de penoso, de cansativo, de mortificante, de crucificante na monotonia cotidiana (...) O trabalho os leva, enfim, a sentirem-se solidários com todos os seus irmãos aqui no Brasil e em todo o mundo. Ele faz de vocês construtores da grande família humana, mais ainda de toda a Igreja, no vínculo da caridade (... n. 18). "É esta a concepção cristã do trabalho: parte da fé em deus Criador e, mediante Cristo Redentor, chega à edificação da sociedade humana, à solidariedade com o homem (...) O homem sem deus e sem Cristo, constrói sobre a areia. Traí a própria origem e nobreza. E, por fim, chega a prejudicar o homem, a ofender o irmão", n. 19.

Estes dizeres de João Paulo II ao encerrar sua alocução, que especialmente convêm lembrados agora para mostrar o espírito cristão do trabalho e o papel da Igreja com relação a ele: "Os cristãos tem o direito e o dever de contribuir, na medida de sua capacidade, para a construção da sociedade. E o fazem através dos quadros associativos e institucionais que a sociedade elabora com a participação de todos. A Igreja como tal não pretende administrar a sociedade nem ocupar o lugar dos legítimos órgãos de deliberação e de ação. Pretende apenas servir a todos aqueles que, em qualquer nível, assumem as responsabilidades do bem comum. Seu serviço é essencialmente de ordem ética e religiosa. Mas para garantir este serviço, de acordo com a sua missão, a igreja exige com todo o direito um espaço de liberdade indispensável e procura manter a sua especificidade religiosa" (n. 23).

A luta contra o vasto analfabetismno e a muita pobreza no País necessita urgentemente de determinante ação do governo do âmbito federal, estadual e municipal; mas também de decidida colaboração do povo. Será necessário estabelecer princípios e organizações realmente adaptadas às circunstâncias locais, com toda objetividade e leal esforço dos coordenadores e demais responsáveis que, diante de Deus e da Pátria, hão de agir com consciência e responsabilidade. Evidentemente, será sempre falha e perneta uma industrialização, por mais grandiosa, que não caminhe pari passu com a agricultura e pecuária. E nem bastarão apenas oferecimento de recursos, ainda que copiosos, sem se ministrar educação, sem orientação que leve a criatividades. Cumpre, outrossim, atualizar o mais breve as leis trabalhistas e não o tirar os seus direitos adquiridos; adquiridos, aliás por muitas lutas de anos e anos e com razão, atualizar não significa desmontar o que com muito suor se conquistou. Leis trabalhistas não só em âmbito urbano mas também de cunho rural, que defendem tanto os operários quanto os empregadores. Delas estão especialmente precisados os pequenos proprietários rurais.

Algumas causas de extrema pobreza ou miséria

Várias são evidentemente as causas que levam à muita pobreza a raiar pela miséria, como injustiças, marginalizações, desempregos. Mas não só. Por vezes, a preguiça é uma grande responsável. Pobreza de mente é o desinteresse pelo trabalho. Os que assim vegetam, precisam, mais que tudo, de EDUCAÇÃO. Educação para tomar gosto pelo trabalho. Educação para assimilar a mística do trabalho, como dignificador da pessoa. Esta é a maior caridade de que ela precisa: EDUCAÇÃO. Ponto de honra para um jovem casadouro será sua dedicação ao trabalho. Com o fruto de seus labores, acompanhado de uma racional economia, e, portanto atento contra a tentação das propagandas "consumistas" esse jovem estará preparando um lar materialmente sólido. Os esposos, trilhando a mesma via, eles estarão cooperando realmente com os filhos por este seu bom exemplo. Quantos deles que, começados do nada, edificaram o próprio conforto e, com honestidade, se tornaram até ricos! Vencer, pois, desânimo e agir com determinação e constância.

Aos filhos, mostra-lhes a construção que o trabalho realiza. Estes, meninos ou jovens, precisam, sim, de lazer, de convivência com companheiros de sua idade e morigerados. Se tais não aprendem a ter, em casa, alguma ocupação, ou que trocam o aconchego do lar pela vadiagem na rua o dia inteiro, chegarão à idade madura sem iniciativa e sem criatividade para qualquer trabalho. É verdadeira a velha máxima: "De pequenino se torce o pepino". Sim, Deus quer que o homem trabalhe.