Ventos impetuosos estão a sacudir mais veementemente o barco da FAMÍLIA, em nossos dias. Contra a família encapelam-se ondas de puro sexismo e de hedonismo, sem nenhum ideal alevantado. O materialismo esforça-se por mergulhá-la num torvelim destruidor. A campanha adversa, através de meios de comunicação social de todas as modalidades, antes que bem não fariam transformando-se em instrumentos de defesa! Para o cristão, particularmente, não há, entretanto, motivo de desânimo ou de derrotismo. Deus não dorme! A providência de Deus governa o Mundo! Efetiva-se, indefectivelmente, a presença de Cristo em sua Igreja, como Ele afiançou: "Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos"[1].  Cremos que a força divina do espírito Santo, amor Substancial de Deus, vivifica a Igreja. portanto, só temos razão de esperança e confiança. Há, em verdade, numerosíssimas famílias cristãs em todos os quadrantes da Terra, que vivem o espírito de Deus, que procuram imitar a Sagrada Família Jesus, Maria, José, que se empenham em estender a seu lar o Lar de Nazaré.

 

Em algumas dioceses florejam movimentos apostolares de santificação da família sob orientação e assistência espirituais de excelentes sacerdotes como o MOVIMENTO FAMILIAR CRISTÃO, cujos opimos frutos colhe com alegria a sociedade eclesial. verifica-se leal interesse de párocos por cursos de noivos, preparação próxima para o casamento. E quantos movimentos juvenis, de moços e moças, guiados por zelosos e competentes Padres que se nos afiguram como uma primavera de formação cristã, como um seguro caminhar para futura fundação de um lar digno de Deus e da Igreja Santa!

Não nos impressionem tanto desvarios circundantes descaídos sobre a Família, que o fermento de Deus, sabemo-lo levendando a massa. Por muito mais vultoso o mal, esse é o mais impressionante e gritante. Menos sensível porém, e quase que à sombra, trabalha o fermento de Deus. "Não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa?"[2]. Pois nós confiamos que pela graça do céu tantas flores apostolares transmudar-se-ão em frutos. A esses quero repetir o que São Paulo dizia à Igreja da Galácia: "Eu confio em vós no Senhor, que vós não pensais diversamente"[3]. Esta palavra do apóstolo das Gentes contém este claro significado: tenho confiança em vós, unidos no Senhor.

É patente deixarem-se famílias cristãs arrastar por ensinamentos e gestos pervertidos, doutrinados pelo mundanismo, pelo paganismo, ou fomentados pelo ambiente que as circunda. Quanto impregnam espíritos desavisados ou inertes os condicionamentos mal sãos? Entram eles quase que imperceptíveis. A eles se vão acomodando numerosas famílias numa infeliz assimilação dos "sinais dos temos".

Confiamos, pois, com todas as veras, que as famílias cristãs preservadas ajudem as que se descambam ou naufragam em vícios ou em acomodamentos espúrios. Confiamos que os moços e as moças, impregnados mais e mais das virtudes de Cristo, se preparem valentemente para estabelecer seu futuro lar à imagem do de Nazaré; a serem pregoeiros da beleza e dignidade da família, junto de outros jovens casadouros, para felicidade inquebrantável deles mesmos e da própria sociedade, visto ser a família célula primeira e insubstituível da sociedade. Fixe-se bem no âmago de nossa alma esta singela comparação ou parábola de Nosso Senhor: "O Reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e pôs em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado"[4]. O efeito do apostolado, partido de uma simples palavra, de um singelo bom gesto ou de uma oração fervente, mesmo somente conhecida do Alto, ás vezes não frutifica de súbito mas irá ter bom termo na Hora de Deus. ele é, paciente e misericordioso. Como o grão de mostarda e o fermento, o Reino tem um começo modesto, mas grande será seu desenvolvimento.

 

A FAMÍLIA CRISTÃ

Preocupada a Igreja com graves dificuldades espirituais e morais por que, particularmente atravessa hoje a família, e de mais perto, a família cristã, a Igreja inclina-se maternal sobre tais problemas, oferecendo, à luz de Cristo instrumentos de defesa, de reconstrução, de aprimoramento. O Concílio Vaticano II, o 21º Ecumênico ou Universal. como os demais ecumênicos precedentes, cremos que, por inspiração de Deus, foi concebido e aberto por João XXIII e encerrado, e promulgado por Paulo VI. Este Concílio fora meticulosamente preparado e, com a colaboração de mais de dois mil Prelados, estudado. Celebrado por etapas, de 1962 a 1965. O Vaticano II recebeu as assinaturas de todos os dois mil Bispos, que lá estavam presentes. E promulgado por Pedro, na pessoa do saudoso Sumo Pontífice Paulo VI.

Cremos que também este Vaticano teve a presença do Chefe Invisível da Igreja e a proteção do espírito Santo, que é como alma da Igreja. No tocante à sua parte humana, não terá atingido aquela perfeição de que só Deus é capaz. O Espírito Santo acompanhou a doutrinação deste Concílio, sublinhando verdades dogmáticas dos antecedentes Concílios desde o primeiro de Nicéia, na Ásia Menor, celebrado no ano 325.

Pois ao Concílio Vaticano II interessou a Família. Ele frisou a sua dignidade primitiva, quando da criação do primeiro casal humano; lembrou seu enobrecimento com a elevação à dignidade sacramental, na Nova Aliança; deplorou ou embaraços do divórcio, o pecado nefando do aborto; reafirmou a sua antiga indissolubilidade, restaurada por Jesus Cristo; pôs novamente em ressalto a sua finalidade precípua: transmissão da vida e educação dos filhos na mesma linha de dignidade e responsabilidade.

 

DIREITO DOS ESPOSOS A PROCRIAÇÃO

O Papa João Paulo II publicou a 22 de novembro de 1981 uma Exortação apostólica FAMILIARIS CONSORTIO sobre a Missão da família Cristã no Mundo de Hoje. O Santo padre não cessa de doutrinar sobre a Família Cristã. No dia 10 de novembro de 1980, em Audiência aos Juízes da Corte Européia para os direitos do homem instituída em 1953, ele proferiu estas palavras: "A Igreja está convencida que a família se encontra inserida numa sociedade mais vasta para a qual está aberta e diante da qual é responsável. A Igreja, porém, reafirma e defende o direito que tem todo o homem de fundar uma família e defender a sua vida privada, como também o direito dos esposos à procriação e à decisão a respeito do número dos filhos sem constrição indevida da autoridade pública e o direito a educá-los no seio da família"[5].

A Constituição Pastoral Gaudium et Spes fala da PATERNIDADE RESPONSÁVEL, ou seja, os esposos cristãos, no uso do matrimônio, hão de proceder, não conforme ao próprio arbítrio, mas devem guiar-se conscienciosamente segundo a lei divina e ser dóceis ao magistério da Igreja[6]; aos filhos da Igreja "não é lícito adotar na regulação da prole os meios que o magistério reprova, quando ele explica a lei divina"[7]; "perante a afirmação de muitas, segundo a qual o crescimento da população do mundo ou pelo menos em algumas nações deve ser radicalmente limitado por todos os meios e por toda sorte de intervenção da autoridade pública, o concílio adverte todos os homens que se acautelem de soluções preconizadas, pública ou privadamente e às vezes impostas, que se opõem à lei moral"[8].

Os católicos, pois, que querem ser coerentes com sua fé católica, estejam atentos a estes ensinamentos da Santa Igreja. ante orientações e disposições deste gênero, quer do estado, quer de pessoas privadas, como médicos, enfermeiros, etc., atenham-se ao Magistério da Igreja que interpreta a lei divina. Estejam os cristãos de sobreaviso e repudiem tudo quanto, também por meio de comunicação social contrarie aos sagrados preceitos.

É de lastimar a incoerência dos que propugnam o aborto e ao mesmo tempo aprovam ou incentivam os chamados "filhos de proveta", método que já Pio XII condenara com veemência.

Indevidamente e absurda é a intromissão de um país rico e poderoso pretender impor a um outro pobre ou em desenvolvimento ou métodos anticoncepcionais ou abortivos. A que colima tal interesse de tais estranhos? Preocupação de crescimento populacional num país como o Brasil com imensas áreas vazias, que poderá crescer ainda de muitos outros milhões de habitantes?

E porque pretendem tais estrangeiros desafiar o natural Planejamento familiar, por exemplo, através do chamado "Método Billihgs", que é, de fato eficiente? Mentem os que apregoam a sua ineficácia.

Como, em verdade, poderia subsistir no futuro um país habitado só de anciãos precisados de aposentadoria, mas sem existirem outras pessoas a produzir patrimônio para pagamento a esses aposentados?

 

SAÚDE E EDUCAÇÃO é o que mais está precisando o brasil. Este será o melhor e mais seguro investimento que nos da Pátria deverá incrementar. Que o estado economize, quanto razoável e possível, evitando gastos exagerados ou adiáveis em várias áreas da administração pública em prol da EDUCAÇÃO DO POVO, porquanto, bem cultivado, este mesmo povo contribuirá para o progresso de nossa Pátria.

Ouçamos ainda estas solenes palavras de Paulo VI à assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, dia 4 de outubro de 1965: "O que aqui proclamais, são os direitos e deveres fundamentais do homem, a sua dignidade, a sua liberdade, e, antes de mais, a liberdade religiosa. Sentimos que vós sois os intérpretes do que há de mais alto na sabedoria  humana diríamos quase: do seu caráter sacro. Trata-se, na verdade, antes de mais, da vida do homem, e a vida do homem é sagrada: ninguém ouse atentar contra ela. o respeito pela vida, mesmo no que se refere ao grande problema da natalidade deve ter na vossa assembléia a sua mais alta afirmação e a sua defesa mais racional. Vós deveis procurar que o pão seja suficientemente abundante na mesa da humanidade, e não favorecer uma regulamentação artificial dos nascimentos que seria irracional, para diminuir o número dos comensais do banquete da vida".



[1] Esta é a última palavra gravada por são Mateus no seu Evangelho, Mt 28,20.

[2] 1Cor 5,6; Gl 5,9.

[3] Gl, 5 10.

[4] Mt 13,33.

[5] Cf. Constituição Gaudium et Spes, nn. 52 e 87: Apud L'Osservatore Romano, edição portuguesa de 30-11-1980, p. 18, Col. 4.

[6] GS, n. 50.

[7] GS, n. 51.

[8] GS, n. 87.