A linguagem humana é um excelente meio de comunicação. Por meio dela transmitimos conteúdos, idéias e sentimentos para o nosso semelhante. Mas todos sabem que seu sentido pode evoluir, e a mesma palavra que ontem significava uma coisa, hoje expressa outra. Basta ver o sentido original da palavra Cruzada, que hoje pode descrever qualquer luta organizada, mesmo que seja contra a dengue. Além do mais, as palavras podem receber um cunho pejorativo, como acontece quando mimoseamos alguém, dentro da Igreja, com a classificação de Tridentino, ou Pré-conciliar. Palavras com novo sentido, são usadas para punir os que tem idéias diferentes das nossas que, naturalmente, são sempre as verdadeiras. Passo a apreciar duas dessas expressões em voga. Vale o velho ditado latino, que assim descrevia a comédia: "ridendo, castigat mores". (Ridiculariza-se para castigar os costumes).

Atitude intimista: essa é a classificação com a qual carimbamos alguém, que supostamente reza demais. De antemão achamos que tal cristão é um desligado da realidade, pouco preocupado com o aspecto social, um guloso espiritual. É lógico que essa pessoa, em tal exagero suposto, estaria fora do preceito divino. "Paz para todo o que pratica o bem" (Rom 2, 10). O que na realidade tenho visto é que aquele que reza, também se lembra do irmão. E os que mais amam são os que melhor rezam. Temos de deixar este preconceito barato de alcunhar de intimistas os que fazem o que devem.
Homens do Agronegócio: é outra palavra repleta de repreensão. Segundo eu entendo, seria a atividade daquele homem e mulher da lavoura que ultrapassam a agricultura familiar, usando recursos modernos de maquinário e insumos. Sabemos que a agricultura familiar produz 40% dos alimentos, mas só capta do poder público 15% do financiamento dado à lavoura moderna. Talvez essa desigualdade origine essa aversão. O jeito não é fazer pouco desses homens, afinados com a modernidade, que produzem 60% dos alimentos, e exportam em quantidade. Assim como se fala, se tem a idéia de que eles são grandes malfeitores. Isso não é verdade. A lavoura familiar deve organizar-se melhor, para obter os recursos necessários e merecidos.

Dom Aloísio Roque Oppermann scj - Arcebispo de Uberaba, M
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