Reverendíssimos sacerdotes, Caros irmãos em Cristo Jesus,

1. Para mim é uma alegria e uma honra dar-vos, aos membros do XXIV Encontro da

domhenrique

Sociedade Brasileira de Canonistas e do XXVI Encontro dos Servidores dos Tribunais Eclesiásticos do Brasil, as cordiais boas-vindas em nome do Senhor Arcebispo Dom José Palmeira Lessa e de toda a Igreja Metropolitana de Aracaju. Nossa Igreja e nossa Cidade arquiepiscopal sentem-se honradas em receber-vos!
2. É com apreço que os Bispos acompanham e apreciam o vosso trabalho, pois que se trata de um precioso serviço à Igreja, sobretudo nos dias atuais, quando o enorme fosso que vai se abrindo entre uma visão cristã do mundo e da vida, por um lado, e uma mentalidade imposta por uma civilização que se delineia pós-cristã e neopagã, por outro, traz para o próprio seio da Comunidade eclesial e para a vida mesmas dos cristãos problemas e conflitos novos e complexos. Aqui, certamente, o vosso trabalho pode tanto bem fazer à Igreja, ser de tanta valia pastoral e tanto ajudar ao ministério episcopal!
3. O grande desafio para os canonistas de todas as épocas, caríssimos, é exprimir o Direito no seio da Igreja como expressão da caridade salvífica de Cristo para com seus discípulos, e da caridade recíproca dos irmãos. Certamente que o caminho que o Senhor e Salvador nosso nos propões não é fácil nem pode ser nivelado pela medida da mediocridade existencial e moral. O próprio Cristo, no Evangelho que escutamos, adverte: "Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim vai encontrá-la". Não há como negar que são palavras exigentes, radicais até! E, com certeza, o Direito Eclesial deve exprimir essa exigência salvadora e libertadora por parte de Cristo Jesus, já que o conjunto de cânones que rege o Povo de Deus é expressão da fé da Comunidade eclesial, que não está acima da Palavra do Senhor, mas a escuta, conserva e procura vivê-la, com toda a sua radicalidade e novidade.
4. Por outro lado, o Direito, numa perspectiva cristã, não pode ser somente expressão da justiça, mas primeiramente da caridade, que engloba e transcende a própria justiça. Afinal a justiça de Deus em Cristo revela-se precisamente em nos salvar, justificando o pecador. Sim! Podemos dizer, na escola do Apóstolo, que Deus é justo porque justifica o pecador! Alegra-me, neste sentido, que um dos temas abordados neste vosso Encontro, seja, precisamente, a questão da justificação pela fé e não pelas obras da lei segundo São Paulo. É um belo e fecundo horizonte esse, no qual se põem os vossos estudos destes dias e o vosso labor no dia-a-dia de trabalho em favor da Igreja. Sim: sempre o amor como horizonte e moldura no exercício da justiça, com a profunda consciência de que as exigências evangélicas - e são exigências! - são um modo de exprimir o amor em toda a sua seriedade e amplitude de conseqüências! Ainda agora, na sua recentíssima Encíclica "Caritas in Veritate", o Santo Padre Bento XVI recordou que "a caridade é o dom maior que Deus concedeu aos homens; é sua promessa e nossa esperança". Por isso mesmo, "a caridade supera a justiça, mas nunca existe sem a justiça". Mais ainda: "A justiça não só não é alheia à caridade, não só não é um caminho alternativo ou paralelo à caridade, mas é inseparável da caridade, é-lhe intrínseca; é o primeiro caminho da caridade", de modo que "a cidade do homem não se move apenas por relações feitas de direitos e deveres, mas antes e, sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão".
5. Caros Irmãos, uma das riquezas do período pós-conciliar no âmbito do Direito Canônico é, precisamente, a consciência mais aprofundada e explicitada teoricamente de que, nascendo no seio da Igreja e sendo aplicação e expressão da fé da Comunidade eclesial, o Direito Canônico, ainda que salvaguardando todos os seus estatutos epistemológicos, situa-se, de certo modo, no interior da própria Teologia, enquanto codifica aquilo que é decorrente da fé da Igreja, que tem no mistério pascal, expressão suprema da caridade de Cristo, sua fonte, seu ambiente vital e seu cume. O canonista, sem dúvida, sê-lo-á verdadeiramente se primeiro for um crente, um verdadeiro discípulo do Cristo Jesus, movido pelo amor ao Senhor, pela busca sincera da santidade de vida, pela filial dileção para com a santa Igreja, pela caridosa preocupação com o bem dos irmãos na fé e pelo profundo senso de justiça, aquele natural e, mais ainda, aquele outro, que aprendemos da Cruz do Senhor e aperfeiçoa e eleva o próprio sentido humano da virtude da justiça. Neste sentido, caríssimos irmãos, animo-vos vivamente a crescerdes sempre mais na vida de intimidade com o Senhor, de comunhão eclesial e de fecunda atenção à teologia, em profunda e leal comunhão com o Magistério da Igreja. E que no vosso trabalho, seja intelectual seja prático, nunca seja perdido de vista o fim último de todo trabalho que executais, expresso tão bem naquela expressão já clássica e tanto repetida: a "salus animarum".
6. Irmãos, que vos acompanhe nos estudos e debates destes dias a Virgem Santíssima, Imaculada na sua Conceição, Padroeira de nossa Igreja de Aracaju, e possa valer-vos a intercessão do Santo Imperador Henrique de Bamberga, que a Igreja hoje venera na sua liturgia! Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju
é natural alagoano de Penedo. Fez seus primeiros estudos em Junqueiro (AL) e em Maceió. De 1981 a 1984 fez o Seminário de Maceiro e, em 1984, recebeu o bacharelado em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas. De 1985 a 1989 foi noviço no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, e no Mosteiro Trapista de Nossa Senhora do Novo Mundo, no Paraná. Em 1990, volta para o Seminário de Maceió onde inicia a Teologia. No ano seguinte, vai para Roma e conclui a Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana com mestrado em Teologia Dogmática. Ordenado padre em 15 de agosto de 1992, cônego Henrique é reitor da Igreja Nossa Senhora do Livramento, em Maceió, desde 1994. Foi professor de teologia no Seminário Provincial de Maceió e no Curso de Teologia do centro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC). Lecionou, ainda, no Instituto Franciscano de Teologia, em Olinda, e no Instituto Sedes Sapientiae, em Recife. Na arquidiocese de Maceió, foi membro do Conselho Presbiteral, do Cabido Metropolitano, do Colégio de Consultores; vigário episcopal para os leigos e coordenador da Comissão de Formação Política e responsável pelos diáconos permanentes.