QUINZE COMPROMISSOS BRASILEIROS

Dom Dadeus Grings - Arcebispo de Porto Alegre

 

Fonte: Jornal Comunicador Arquidiocesano. Órgão Oficial de Comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre - Ano IX, nº 95, Março de 2009.

 

O acordo Igreja-Estado, no Brasil, representa um amplo e renovado compromisso da Igreja, em nossa Pátria. Pode ser sintetizado em 15 grandes desafios, à semelhança de um envolvente Plano de Pastoral:

1. Os católicos sempre foram e querem ser bons brasileiros, fiéis à sua Pátria, que é a terra deles e de seus pais; e os brasileiros, em sua grande maioria, ao longo desses 500 anos de História nacional, se orgulham de ser católicos. Como reconhecimento oficial da personalidade jurídica da Igreja no Brasil, urge-se uma consciência clara da própria identidade e um apreço pelas próprias instituições, tanto eclesiásticas como civis.

2. Reconhecer que a Igreja foi instituída para a redenção de todos equivale a afirmar sua filantropia. É preciso, com esse reconhecimento oficial, organizá-la de modo mais visível e eficiente, tanto no que diz respeito à educação, para formar o cidadão católico, como à assistência social, para garantir que entre nós não haja necessitados. O pão de cada dia, das mesas de todos, está intimamente ligado à fraternidade. Esta, por sua vez, se expressa pela solidariedade. O amor, que foi infundido em nossos corações pelo Espírito Santo, para se firmar entre nós, se serve de duas virtudes: da justiça, para repartir os bens materiais sem dividir as pessoas, e da misericórdia, para que todos tenham vida em abundância. Queremos, de acordo com a proposta do Papa Bento XVI, transformar, como católicos, este nosso Continente da Esperança num Continente do Amor.

3. Um renovado empenho pela cultura. A Igreja sempre foi e continua sendo grande promotora da cultura. O acervo histórico brasileiro da arte e da cultura se concentra, em mais de 80% nas Igrejas. É preciso não só preservá-lo, como também incrementá-lo. O acordo nos ensina a amar a arte e a progredir na cultura.

4. Realçar o compromisso da assistência religiosa em todos os ambientes, exigência realçada pela V Conferência de Aparecida, que nos define como discípulos missionários, para que, em Cristo, todos tenham vida. Destacam-se os que estão confinados a certos ambientes, como hospitais, prisões, escolas.

5. Um olhar carinhoso para nossas escolas católicas. Além do ensino aprimorado, elas proporcionam uma educação católica marcada pelo amor; criam um clima de convivência fraterna não só no próprio recinto, como também na comunidade. São fatores de paz, concórdia e progresso, pela convivência solidária, pela espiritualidade cristã e pelas orientações de uma vida feliz.

6. Um apreço especial pelas faculdades eclesiásticas, que formam nossos agentes de pastoral, especialmente nossos mestres na fé e os orientadores de nosso povo.

7. Um compromisso mais eficiente pelo ensino religioso católico, para destacar nossas raízes históricas e apontar para a meta de nossa caminhada. Mais que proporcionar noções, o ensino religioso deve levar ao apreço pelos valores da fé, dentro do contexto geral do conhecimento, privilegiar as dimensões do amor, com um bom relacionamento. Ultrapassa, de muitos, as paredes da escola pública, para buscar sua raiz na família, na Igreja e na sociedade que lhe dão respaldo.

8. Uma valorização maior do casamento, tanto religioso como civil: a reconhecer a força da graça divina neste enlace, com seus efeitos civis, no contexto da sociedade brasileira. O casamento é uma instituição divina, com profundas repercussões na vida e na sociedade humana. Na verdade, o ser humano não pode ser reduzido ao indivíduo. É família. O Papa Bento XVI a proclamou patrimônio da humanidade, é, pois, preciso zelar por ela e investir tudo nela, unindo a dimensão religiosa à civil.

9. Deus se expressa por símbolos visíveis. Situa-se nas coordenadas do espaço e do tempo. Daí a valorização dos espaços e dos símbolos sagrados, que a Igreja propõe e dos quais necessita desempenhar sua missão. Se é desumana uma cidade sem fábricas, no dizer de Card. Daniélou, mais desumana é uma cidade sem Igrejas. A proteção e valorização dos símbolos sagrados da Igreja são indispensáveis para a evangelização.

10. Uma concepção de trabalho que não se limite ao contrato legal, visto na perspectiva da encíclica "Laborem Exercens", de João Paulo II, como toda atividade humana. É preciso reconhecer sua mística. Na época da quinquenarização prevalece a dimensão da gratuidade. É o amplo campo do voluntariado, que tem, na fé cristã, sua maior alavanca.

11. A Igreja é essencialmente missionária e misericordiosa. Daí a necessidade de uma abertura, tanto para receber, como para enviar missionários, além fronteiras. É a lei do intercâmbio. Há uma solidariedade universal que promana da fé e cria laços de fraternidade entre todos os povos. Constitui a condição prévia para a paz no mundo. Acolhemos, com gratidão e alegria, os missionários e nos sentimos muito felizes com a participação e facilitação de nosso país, para concessão de vistos missionários, que tanto bem fazem e fizeram ao nosso povo.

12. O interesse pelo relacionamento com os demais países e, de modo especial, o empenho da Santa Sé em estreitar seus laços de amizade com os povos, através de relações diplomáticas, que reafirma também com o Brasil.

13. Nosso apoio na formação de padres e diáconos. Os seminários estão no coração da Igreja. Daí a necessidade da promoção vocacional e o trabalho intensivo na formação cada vez mais aprimorado dos ministros.

14. Valorização da confissão e o empenho em suscitar confiança, na certeza do segredo absoluto de tudo o que diz respeito à orientação pessoal, que se procura junto ao sacerdote. Também o empenho da disponibilidade em ouvir a todos, com uma condição que é única, porque reservada para o encontro exclusivo com Deus.

15. E, por fim, continuar, sem cansar, no caminho do diálogo institucional entre Igreja e Estado: progredir na compreensão mútua e na mútua colaboração com o objetivo de criar uma sociedade mais justa, solidária, próspera e pacífica. A Igreja sempre se tem mostrado Mãe solícita e vê o Estado como Pai providente da Sociedade. Sem pretender uma união plena do Estado e da Igreja, por nos encontrarmos numa sociedade pluralista e heterogênea, almejamos por uma profícua e sempre renovada colaboração, nos pontos em que é possível e viável, para que nossos cidadãos e fiéis tenham vida mais plena.

 

 

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