Dom Benedicto de Ulhoa Vieira*

Quando nos cabelos começam a despontar os primeiros fios brancos, é sinal iniludível de que a mocidade já está iniciando a ter seus dias contados. Com o correr do tempo, a brancura encobre a fronte e a pessoa já não se pode iludir, como se a mocidade ainda estivesse perdurando. É o imposto que se paga à idade mais alta.

As pessoas, que chegam a esta etapa madura da vida, ao invés de pretender inutilmente aparentar menos tempo de vida, deveriam alegrar-se pela maturidade com que Deus as exornou e pela riqueza de experiências com que foram agraciadas.

O problema é não deixar que a brancura álgida do inverno atinja o coração. Este deve estar sempre aberto, sempre cálido, sempre enriquecido de amor e disposto a abrir-se em gestos de auxílios e de ternura para com aqueles que nos rodeiam ou precisam aproximar-se de nós. É a hora de abrir, para distribuir, as riquezas com que os anos entesouram experiências de fraterno amor.

Na vida da Igreja pode-se notar que a juventude, com que os seminários, por graça dos céus, se vêem enriquecendo de vocações, há imprescindível urgência de que a convivência dos mais velhos do presbitério seja acolhida pela juventude dos que são vocacionados.

Não é em vão que a sabedoria da Escritura Sagrada adverte: “Escutai, ó filhos, a disciplina. Ficai atentos para aprender a inteligência... Conservai minhas palavras no vosso coração. Guardai os meus preceitos e vivereis... eu vos instruo no caminho da sabedoria” (Prov 4,10).

Em outra passagem nos ensina: “Feliz o homem que se ocupa da sabedoria e que raciocina com inteligência, que reflete em seu coração os caminhos da sabedoria” (Ecle 14, 20).

Em resumo, poder-se-ia dizer que a pessoa madura e sábia deveria pela palavra, pelas atitudes, pelo exemplo de vida, apontar os caminhos para os mais jovens. E estes, ao conviverem com os que já trazem na fronte a geada dos cabelos brancos, compreenderão quanto podem enriquecer-se com esta proximidade.

Nossa Igreja de Uberaba, com rico número de um clero jovem, possa ser exemplo de convívio fraterno entre a alegre e numerosa turma dos padres novos e o restante dos que, já cansados, de fronte algodoada, aguardam do alto o chamado do Senhor.

*Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.