MARIA: MÃE DE CRISTO E  MÃE DA IGREJA.

Canta o Salmista que os céus manifestam a glória de Deus. cantam-na também a formosura das flores, o canto dos pássaros, o véu nupcial das cascatas. No elemento humano, o sorriso das crianças, a bondade de um coração, a caridade de alma generosa, a candidez de tantas pessoas.

Que dizer então da formosura de Maria Santíssima? Ela reflete e compendia em Si a beleza de toda a humanidade. Toda pulcra, Mãe de Cristo Homem-Deus! Cume e apogeu de seu encanto e de sua glória é ser Deípara, Mãe da Divina Graça! Mal podemos avaliar a extensão desta grandeza: a Maternidade Divina. E ninguém como a sempre Virgem Maria é revestida de graça. Ninguém como esta Criatura resplende na amizade de Deus. Nossa devoção à Mãe do Amos Divino, o culto de especial veneração que lhe tributamos assenta-se na glorificação do próprio Deus que a criou tão bela Deus seu Salvador, Deus Todo-Poderoso, que N'ela "fez grandes coisas" (Lc 1,48).

Nossa adesão à Mãe de Deus firma-se também no fato de ser nossa Irmã, como descendente que Ela é de Adão e Eva. Nossa Irmã primeira, Irmã por excelência. Orgulhamo-nos, pois, com tão alto parentesco, dando assim glória a Deus.

Noutros motivos mais se fundamenta nossa devoção a Maria, a saber, em base teológica. Com efeito, Maria, como ensina o Concílio Vaticano II, "não foi utilizada como instrumento meramente passivo, mas cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens" (Lumen Gentium, n. 56). Destarte, Maria entra a fazer parte essencial do mistério da salvação. ela aceitou com profunda humildade ser Mãe de "um Filho a quem dará o nome de Jesus... Será chamado Filho do Altíssimo... e o seu reino não terá fim..." E o santo a nascer dela "será chamado Filho de Deus". Consciente e generosa, embora reconhecendo-se pequenina serva do Senhor, Maria dá o seu "Sim": "Eu sou a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra" (cf. Lc 1,26-37).

Deu Maria de seu sangue para formação virginal do corpo de Cristo; virginalmente, deu-o à luz; aleitou-o, solícita acompanhou-lhe o crescimento e desenvolvimento até a idade madura. Muito sofreu com cristo por vê-lo sofrer tamanhas ofensas, até o calvário, até a Morte de Cruz.

Maria compartilhou também das alegrias de Cristo peregrinante e da glória de sua Ressurreição. Maria esteve bem no coração da Igreja, unida com os Apóstolos reunidos numa casa em Jerusalém, em ferventes preces, para receber mais copiosamente os dons do Espírito Santo.

Recomenda Paulo VI: "Nas expressões do culto à Virgem Maria dê-se um relevo particular ao aspecto cristológico e envidem-se esforços no sentido de elas refletirem o plano de Deus, o qual prestabeleceu, com um só e mesmo decreto, a origem de Maria e a Encarnação da divina Sapiência". Prossegue Paulo VI dizendo que o culto a Nossa Senhora não só não diminuirá, mas, ao contrário, "contribuirá para fazer aumentar o culto ao próprio Cristo", porque segundo o sentir perene da Igreja "é referido ao Senhor aquilo com que se procura agradar à Seva; deste modo redunda em prol do Filho, aquilo mesmo que é atribuído à Mãe... de tal sorte transfere-se para o Rei aquela honra que, em humilde tributo se presta à Virgem" (Marialis Cultus, n. 25). Assim "a piedade para com a Mãe do Senhor torna-se para o fiel cristão ocasião de crescimento na graça divina, que é de resto, a finalidade última de toda e qualquer atividade pastoral", n. 27 (Discurso dia 6.5.1975, aos participantes do Congresso Internacional Mariológico).

MÊS DE MARIA

O Mês de Maio, tão bonito em nossa região: o Céu mais azul, mais puro e mais sereno, mais meigo o luar evocando certa indefinível saudade. E na terra, os vermelhos bicos-de-papagaio (euphorbia pulcherrima), e gaios arbustos vestidos totalmente de cândidas "flores-de-maio" ou "margaridas". E inocentes meninas ensaiando cânticos de coroação de Nossa Senhora: "Vinde, povos, trazer flores..." e tantos outros, antigos e singelos de puríssima poesia. Tanta ternura a poetizar o "Mês de Maria".

Em Igrejas matrizes e brancas igrejinhas filiais florindo como lírios em meio aos verdes dos campos, Maria Santíssima é glorificada com ternura no seu lindo Mês. Assegurada que for uma leal devoção à Augusta Mãe de Deus, tal religiosidade popular só poder ser benéfica e abençoadora. Cada maio seja, sobretudo, mês de reflexão sobre as virtudes de Maria, que Ela praticou culminantemente, como nenhuma outra criatura humana.

É-me gratíssimo citar aqui esta formosa página mariana do saudoso Papa Paulo VI: "Tota pulchra, es Maria! Tu és a beleza, a verdadeira, a pura, a santa beleza, ó Maria! Esta deveria ser a imagem real e ideal de Nossa Senhora, reflexa, luminosa e iluminante, nas nossas almas, hoje, ó fiéis, como síntese da nossa admiração e da nossa devoção a Nossa Senhora, da qual celebramos a festa eminentemente teológica e eminentemete eclesial. TEOLÓGICA, porque a dessumimos da Revelação e da mais atenta e amorosa reflexão. Com que a mais cândida e virginal piedade ousou, certamente com a Sua ajuda, fixar o olhar absorto e perscrutador no seu rosto humilde e pudico, o rosto perfeito a beleza santa e humana.
ECLESIAL, porque como espelho da perfeição divina, speculum iustitiae, Ela apresenta-se-nos como espelho da perfeição humana que a Igreja, ao venerar Nossa Senhora, n'Ela contempla, com alegria, como numa imagem puríssima (é o Concílio que fala no documento Sacrosanctum Concilium, n. 103), aquilo que a Igreja inteira deseja e espera ser"; uma beleza nupcial, esta, que São Paulo como todos recordamos, descreve esplendidamente: toda gloriosa sem mancha, sem ruga ou algo de semelhante, mas santa e imaculada (Ef 5, 27): a santidade in fieri da Igreja tem o seu modelo, o seu Typus, em Maria, como dirá Santo Ambrósio (In Lucam II-7) e Santo Agostinho comentará: "figuram in se sanctae Ecclesiae demonstravit" (De Symbolo, I, PL 40, 661). Maria representou em si mesma a figura da santa Igreja; basta assim? A verdade teológica vai mais longe, e entra nos confins daquela causalidade subalterna que no desígnio divino da salvação associa de forma incidível a criatura, Maria, a escrava do "FIAT" (este termo latino Fiat exprime o consentimento de Maria a Deus de aceitar ser Mãe de Cristo: "Faça-se em mim segundo a Tua vontade" Lc 1,18), ao mistério da Encarnação, e dela faz, escreve Santo Irineu, "uma causa desta salvação para si mesma e para o gênero humano" (Adv. haereses, III, 22, 4) Alegrar-nos-emos por ter depois em Santo Agostinho a conclusão que ao fim da III sessão do Concílio fizemos Nossa, reconhecendo explicitamente a Maria Santíssima o título indiscutível de "Mãe da Igreja": de fato, se Maria é Mãe de Cristo segundo a carne, e Cristo é Cabeça da Igreja, Seu Corpo místico, Maria espiritualmente Mãe do Corpo, ao qual Ela própria pertence a nível eminente como Filha e Irmã (Cf. Santo Agostinho, de Sancta Virginitate, V e VII; PL 40, 399).

Colhemos esta página da Homilia de Paulo VI na festa da Imaculada Conceição 8. 12. 1975 Apud Ensinamentos de Paulo VI Libreria Editrice Vaticana, vol. 6, I.c., pp. 455s).

Leigos e sobretudo não Sacerdotes debrucemo-nos sobre esta página rica de doutrina teológica e eclesial, enriquecendo-nos doutrinariamente e no amor à nossa Mãe Santíssima.