O Eminentíssimo Senhor Joseph, Cardeal da Santa Igreja Romana, Ratzinger, sendo eleito 265º sucessor do Apóstolo São Pedro escolheu, - seguindo uma multisecular tradição, que a história assinala ter sido a partir do Papa Sérgio IV (1009-1012), que se chamava Pedro, pouco interrompida -, ser chamado por um novo nome, Bento, cuja grafia na língua oficial da Igreja, que é o latim, é Benedictus.

Com a ajuda de um grande latinista, que preferiu permanecer "in Deo abscondito", chegamos à seguinte conclusão, precedida da devida pesquisa: Bento ou Benedito vêm do verbo - benedicere. Como aconteceu com as demais línguas derivadas do latim, o português manteve palavras mais próximas do original latino, chamadas eruditas, e palavras de derivação com forma mais popular.

O verbo benedicere não escapou à regra: resultou em bendizer, com o particípio passado bendito, na forma erudita, e em benzer, com duplo particípio: benzido e bento.

Quando o particípio foi substantivado, enquanto nas demais línguas foi mantida uma única forma - benedetto (italiano), bendito (espanhol), no francês e no português resultou em duas formas: béni e benoît e bendito e bento.

Como nome próprio, Benedictus, do latim, tem uma só forma em algumas línguas latinas - Benoît (fr), Benedetto (it). Na língua portuguesa o nome Bento já veio com os lusitanos colonizadores, referindo-se a um Santo: "Houve um homem de vida venerável, Bento tanto pela graça quanto pelo nome" que viveu entre os anos 480 e 547, escrevendo para os seus monges uma Regra, sendo considerado o Patriarca dos monges do Ocidente, que em sua maioria, hoje, por viverem a sua Regra são chamados de beneditinos. Em 24 de outubro de 1964 o Papa Paulo VI o proclamou Patrono da Europa. A memória litúrgica de São Bento por causa da quaresma, antes celebrada no dia 21 de março em toda a Igreja, data provável de sua morte, (transitus) foi transferida para o dia 11 de julho, data em que desde a Idade Média, também se fazia também sua memória.

Em Portugal, por exemplo, para que bem se distinga Santo Antônio de Lisboa (1195-1231), o Santo Antônio do Deserto (250-356), é chamado de Santo Antão; para não confundir São Mauro, discípulo de São Bento, com um santo Mouro, vem chamado de Santo Amaro...

Na Igreja existe um São Benedito, cuja memória facultativa é feita no dia 05 de outubro, ele que morreu em 1589, portanto, 1042 anos depois de São Bento, portanto, tendo nascido depois que os portugueses aqui chegaram e morrido depois que os filhos de São Bento também já tinham chegado ao Brasil, ocasião em que sequer o referido era santo.

No Brasil, quando os negros começaram sua devoção a esse Santo, siciliano, mas de origem etíope, portanto não, necessariamente, negro, chamaram-no, ‘eruditamente', de Benedito, para não confundir com o São Bento dos beneditinos e não bentinos, como alguém poderia até supor. Se houve nisso alguma manifestação de racismo, dever-se-ia admitir a discriminação racial até entre os santos e, curiosamente as imagens de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Monserrate e Nossa Senhora de Montevergine, à guisa de citação, são negras e, nem por isso são discriminadas, espero que se entenda realmente o porquê de Bento XVI sem que criemos fantasias ou correspondamos simplesmente à vontade daqueles que já a criaram; desfaçamos os mitos, sejamos mais reais.

Em nosso país, lamentavelmente, foi o único lugar do mundo em que surgiu esse questionamento a respeito do não uso do nome Benedito pelo fato de ser esse um santo negro, pois nem nas partes da África lusófona, de onde são oriundos os nossos negros e Ásia lusófona, isso foi sequer ventilado. Por lá, como em Portugal, os papas são Bento e não Benedito.

Nos mais de dois mil anos de história do cristianismo tivemos os seguintes Papas com esse nome:

O Papa Bento I, romano, que governou a Igreja de 02 de junho de 575 a 30 de julho de 579, portanto 28 anos depois da morte de São Bento, cuja fama de santidade já era certamente há tempos bem conhecida;

O Papa Bento II, romano, que governou a Igreja de 26 de junho de 684 a 08 de maio de 685, que foi canonizado, portanto, é São Bento II, Papa;

O Papa Bento III, romano, que governou a Igreja de 29 de setembro de 855 a 17 de abril de 858, em cujo pontificado apareceu um antipapa, por quatro dias, Anastásio, o Bibliotecário (21-24 de setembro de 855 que veio a falecer, já deposto, em cerca de 878);

O Papa Bento IV, romano, que governou a Igreja de 1o de maio de 900 a ...julho de 903;

O Papa Bento V, romano, que governou a Igreja de ...maio de 964 a 04 de julho de 964 ou 965;

O Papa Bento VI, romano, que governou a Igreja de 19 de janeiro de 973 a ... julho de 974, ocasião da existência de um antipapa Bonifácio VII ...julho de 974; depois ...agosto de 984 a 20 de setembro de 985);

O Papa Bento VII, romano que governou a Igreja de ... outubro de 974 a 10 de julho de 983;

O Papa Bento VIII, Teofilatto dos condes de Túsculo, tuscolano, que governou a Igreja de 18 de maio de 1012 a 09 de abril de 1024, ocorrendo em seu pontificado também à existência de um antipapa Gregório de ...maio a ...dezembro de 1012);

O Papa Bento IX, Teofilatto dos condes de Túsculo, tuscolano, pela segunda vez, com o mesmo nome, mas considerando-se Bento IX, que governou a Igreja ...de agosto ou ...setembro de 1032 até ...setembro de 1044; pela terceira vez de 10 de março a 1º de maio de 1045 e pela quarta vez de ...outubro de 1047 a ...julho de 1048;

O Papa Bento X, Giovanni, romano, que governou a Igreja de 05 de abril de 1058 a ...de janeiro de 1059, sendo considerado um antipapa;

O Papa Bento XI, Niccoló de Bocásio, trevisano, que governou a Igreja de 27 de outubro de 1303 a 07 de julho de 1304, foi beatificado, portanto é Bem-Aventurado Bento XI, Papa, sendo seu culto confirmado em 24 de abril de 1736;

O Papa Bento XII, Jacques Fournier, francês de Saverdun, que governou a Igreja de 20 de dezembro de 1334 a 25 de abril de 1342;

O Papa Bento XIII, Pietro Francesco (Vicenzo Maria) Orsini, gravinense, que governou a Igreja de 04 de junho de 1724 a 21 de fevereiro de 1730;

O Papa Bento XIV, Prospero Lambertini, bolonhense, que governou a Igreja de 22 de agosto de 1740 a 03 de maio de 1758;

O Papa Bento XV, Giacomo della Chiesa, genovês, que governou a Igreja de 06 de setembro de 1914 a 22 de janeiro de 1922.

E agora o Papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, alemão de Marktl am Inn na Baviera, que governa atualmente a Igreja de Jesus Cristo, Una, Santa Católica e Apostólica desde o dia 24 de abril de 2005.

Que o nosso Papa Bento XVI, a quem desejamos longos anos de pontificado, seja também Bento, tanto pela graça quanto pelo nome, "Bendito seja Bento que vem em nome do Senhor"! Feliciter tempora bona habeatis!

Em latim podemos dizer uma frase que bem soa: "Benedictus benedicat benedictum". Que Bento abençoe o que está bento!

Que o Papa Bento, nos confirme na fé, como Bispo de Roma, Vigário de Jesus Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Primaz da Itália, Arcebispo e Metropolita da Província Romana, Soberano do Estado Cidade do Vaticano e Servo dos servos de Deus.

D. Hugo da Silva Cavalcante, OSB