E os livros? Onde estão os livros que eu gostava tanto de ler? Uma das poucas coisas que me davam prazer em vida... No além não há leitura, apenas uma eterna e momentânea contemplação. Não adianta tentar descrever o que sinto e vejo "agora", com os olhos da alma (o advérbio "agora" é tempo; paradigma de quem vive). É impossível descrever. Aliás, está escrito algures na bíblia que entre os que somos aqui e os que estão aí na existência, surge uma distância intransponível.
Não sinto saudades de nada. A propósito, não sinto nada. Quando vivo, não degustava absolutamente nada também. Os dias já não faziam sentido; eram uma seqüência interminável de repetição: acordar, estudar, trabalhar, dormir, acordar...
A única coisa que percebo de maneira clarividente, alumiado por um enorme archote, que dista tanto de mim, é que em vida poderia ter amado mais as pessoas. O desamor, ou melhor, a falta da prática do amor causou em mim um vazio sem fim. Este vazio me acrisola na situação mortal em que me encontro. Meu Deus, o amor!