Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba

 

Parece ser uma grande incongruência falar, nos dias de hoje, de acolhimento numa sociedade que perfuma exacerbadamente o vírus do individualismo. Há perda considerável do compromisso da ética de responsabilidade que uma pessoa deve ter pela outra. A conquista do verdadeiro sentido da vida não é uma realidade só pessoal, mas também tendo uma dimensão de vida comunitária.

A prática das atitudes de acolhida pode mudar a vida das pessoas, porque os gestos têm grande força transformadora. Eles não só conseguem unir, mas também levam à superação de muitas diferenças. Assim podemos até afirmar que, nos verdadeiros gestos de acolhida está presente algo próprio de arrependimento e a capacidade real do exercício do amor fraterno.

A palavra “acolhimento” tem uma dimensão fortemente comunitária, porque provoca união e fraternidade entre as pessoas. É impossível ser feliz aquele que vive dividido dentro de um grupo de indivíduos, dificultando o calor humano entre seus membros. Como muito bem diz o ditado popular: “Ninguém é uma ilha”, desconectado totalmente de uma verdadeira convivência de fraternidade.

O acolhimento, como dito acima, pode transformar a vida das pessoas. Foi justamente o que aconteceu com o apóstolo Paulo, antes defensor da Lei de Moisés, agora passou de perseguidor de Jesus Cristo e dos cristãos a ser anunciador coerente da Palavra de Deus (cf. I Tm 1,12-13). Quando somos motivados por fundamentos autênticos, podemos mudar totalmente de comportamento.

 Na parábola da ovelha perdida, contada por Jesus, Ele age contra o acúmulo, porque deixa as noventa e nove de lado e vai à busca de uma só que havia desaparecido (Lc 15,3). A acolhida tem uma dimensão divina e deve ser para todos, até mesmo aos filhos que abandonam a casa do pai e caem numa vida desregrada, mas voltam e são acolhidos novamente de forma fraterna no seio familiar.

Dentro do contexto do acolhimento e da sensibilidade das pessoas, no tempo de convivência, podemos colocar a palavra solidariedade. Supõe verdadeira mudança de comportamento e de conduta, alteração de itinerário e construção de novos valores para a vida. É um processo que exige conversão, que acaba refletindo na vida da comunidade. Essa era a prática exigida por Jesus.