Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André

 

Neste mês comemoramos o “dia da proclamação da República”. O imperador Pedro II que reinou no Brasil por 62 anos, partiu para o exílio e os militares assumiram o controle do novo sistema republicano. Devido à mudança do regime político, o Brasil que antes se chamava Império do Brasil passou a chamar-se República Federativa do Brasil. No entanto seria muito bom que o nome oficial fosse: “República Federativa Democrática do Brasil”. Isto para evitar que a república se torne “aristicrática”, ou seja, usurpada por uma só classe de cidadãos que se julgam os salvadores da Pátria.

Enquanto em alguns países, a mudança de sistema de governo se deu através de revoluções e conflitos, muitas vezes sangrentos, no Brasil, a mudança do regime monárquico para o regime republicano, deu-se através de uma “proclamação”, feita por um velho marechal chamado Deodoro da Fonseca, logo substituído pelo seu vice Floriano Peixoto.

Na antiguidade o termo se referia a qualquer Estado, posteriormente passou a designar um regime político no qual o governo é escolhido pelo povo, direta ou indiretamente, por meio de eleições. No regime republicano a responsabilidade do povo na escolha dos governantes é o elemento básico. Daí decorre a necessidade de boa educação e formação para que as escolhas sejam bem feitas.

Os cidadãos devem ser preparados para exercer o voto de modo consciente, esclarecido. O voto é a grande arma pacífica que o cidadão tem para mudar a sociedade em um regime republicano. Por isso é muito importante que o sistema educacional do país seja eficiente. O povo bem instruído através de boas escolas, saberá não só suprir o mercado de bons profissionais, mas também saberá escolher bons governantes.

Todo regime republicano de verdade é democrático. Caracteriza-se pelo direito do povo de escolher seus governantes, e de controlar o modo pelo qual exercem o poder que lhes é delegado. O exercício da democracia não é simples, existem muitos defeitos neste mecanismo, porém é o melhor que existe. É o governo do povo pelo povo e para o povo, com base em uma justiça distributiva que visa o bem comum.

Devemos agradecermos a Deus, por vivermos em um pais no qual o regime republicano garante o sistema democrático. Porém é dia de nos conscientizarmos de nossas responsabilidades como cidadãos. A vigilância sobre quem governa é bastante negligenciada entre nós. Assim facilita que os eleitos pelo voto descumpram suas promessas, exerçam manobras para se perpetuarem no poder, ameacem coibir os direitos humanos quando são criticados, exerçam pressão econômica e política sobre o eleitorado para manipular a votação. A democracia para nós ainda é um lento aprendizado.

Hoje é dia de pleitearmos não a democracia política que já temos, mas a democracia “social” que nos falta. Ou seja, a justiça para todos, como prescreve a Constituição da República, em referência aos direitos do cidadão. Direito à liberdade, moradia, emprego, saúde, etc. É preciso defender sempre a democracia. Não se iludir com os atalhos do autoritarismo que sempre sonha com ditaduras que são sempre macabras.

Neste dia desejo como bispo encorajar a todos os leigos e leigas da nossa Igreja a que assumam ativamente seu papel de cidadãos, colaborando na construção de um país melhor para todos. Para isso é preciso superar o desencanto com a política o qual muitas vezes está presente entre nós. Para termos um bom sistema republicano e democrático funcionando, é preciso que se elejam pessoas comprometidas com a promoção da vida, da liberdade religiosa e com a dignidade da pessoa humana acima do lucro.

Precisamos nos recordar que, sempre as tempestades políticas são mais espantosas que as atmosféricas. Por isso é preciso evitar estas tempestades,  escolhendo bons e capacitados políticos, que estejam à frente das decisões republicanas.