Na reta final do Sínodo, na semana em que os padres sinodais avançam para a sistematização final do documento, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, concedeu, neste dia 22 de outubro, entrevista a jornalistas que estão atuando na cobertura do evento que se encerrará dia 27 no Vaticano. Dom Walmor informa que o Sínodo encontra-se num momento em que os grupos estão trabalhando muito, procurando corrigir, melhorar e ampliar o que está proposto, recuperando aquilo que é essencial e importante e também o que foi dito mas ainda não foi contemplado. “Vamos chegar não a um tratado ou um livro, mas a indicações muito concretas para que nós possamos, inspirados, fazer um novo caminho missionário na Amazônia e a partir da Amazônia na Igreja no Brasil”, disse.

Para dom Walmor, encontrar um novo caminho é um desafio porque exige de todos uma grande abertura à ação do Espírito Santo de Deus, muito diálogo e escuta mútua. O “momento é de esperança”, destaca o presidente da CNBB, para encorajar a Igreja no Brasil a se voltar para a Amazônia e a partir dela crescer em consciência missionária, num processo que envolve a todos os cristãos como batizados e enviados em missão.

O único caminho capaz de superar todas as polarizações e radicalizações, segundo dom Walmor Oliveira, é o enraizamento dos cristãos e da Igreja nos valores propostos pelo Evangelho de Jesus Cristo. “Se nós os cristãos pautarmos nossa vida a partir do horizonte do Sermão da Montanha, nós seremos ao mesmo tempo capazes de fazer discussões e de, sobretudo, nos deixar marcar pela força do Evangelho, do diálogo e do respeito”, disse. Dom Walmor reforçou uma defesa que o Papa Francisco vem fazendo sobre a superação de todas as formas de colonialismo na Amazônia. “Uma das coisas muito importantes é exatamente a necessidade, como lembrado, de superarmos todo tipo de colonialismo, todo tipo de tratamento inadequado à nossa Casa Comum, especialmente a Casa Comum que é a Amazônia por sua importância”, disse. Acompanhe, abaixo, a íntegra da entrevista.

Muitas discussões em torno do Sínodo, o processo pré-Sinodal foi intenso, extenso e de muita escuta. As duas primeiras semanas também de muito trabalho. Agora estamos na semana final. O que este Sínodo vai representar para a Igreja? Claro que ele é Pan-Amazônico, mas para o Brasil qual será o reflexo deste Sínodo para os próximos caminhos que devem ser percorridos? Com o senhor à frente da CNBB… O que o Senhor espera de resultados?

Dom Walmor Oliveira de Azevedo – O Sínodo foi, está sendo e será um sinal de grande esperança para o caminho missionário de toda a nossa Igreja no Brasil. E de modo muito especial, no desafio que a Igreja no Brasil tem de olhar para a Amazônia fazendo esse caminho como missão permanente na região, como precisamos na nossa Igreja. Portanto, é desafiador o caminho! Porque encontrar caminho novo é um desafio, particularmente, porque exige de todos nós uma grande abertura à ação do Espírito Santo de Deus, muito diálogo, muita escuta mútua e sobretudo o sentido bonito de que somos todos servidores na Igreja. É um momento de esperança profundamente desafiador, mas que nos encoraja e, sobretudo, nos pede que toda a Igreja no Brasil se volte para a Amazônia para a partir dela, em missão, fazer mais e assim crescermos na consciência missionária de que somos todos batizados e enviados em missão.

O Brasil tem se polarizado em qualquer tipo de discussão, principalmente quando se entra no mundo político. Como fazer? Qual a preocupação da CNBB em fazer com que as discussões de Evangelização e pastoral também não se polarizem e os católicos compreendam o que têm se discutido e possam também receber de bom grado todas as decisões que vão ser tomadas?

A um único caminho e uma única possibilidade de superação de toda polarização e radicalização. E o Cristianismo sempre nos mostra. É nos voltarmos e nos enraizarmos nos valores do Evangelho de Jesus Cristo. Por isso, gosto sempre de citar e lembrar o Sermão da Montanha, de Mateus 13, 5-7, que se nós os cristãos pautarmos nossa vida a partir exatamente do horizonte do Sermão da Montanha, nós discutiremos, seremos capazes sobretudo de nos marcar pela força do Evangelho, do diálogo e do respeito.

Quando vemos polarizações e posicionamentos que vão na contramão da caridade fraterna e do respeito é preciso que todos os cristãos saibam que estes não são cristãos de verdade, dizem-se defensores de uma “verdade” que não é a Verdade do Evangelho, porque esta é diálogo, é amor fraterno, é solidariedade, é respeito a todas as pessoas. Por isso, nós como Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e como Igreja do Brasil, procuraremos sempre o caminho e o horizonte do Evangelho, o diálogo e o respeito, para que as nossas diferenças se tornem uma grande riqueza missionária.

Nós não podemos perder força, porque o mundo precisa de nosso testemunho, da nossa presença missionária e de nossa ajuda porque temos urgências que são muito grandes, como o sofrimento dos pobres, como o novo modo que devemos tratar a Casa Comum. Portanto, esse é o caminho: voltarmos ao Evangelho para nos dar, inclusive, equilíbrio pessoal e, sobretudo, um horizonte rico, inspirador e bonito para o caminho missionário que a Igreja tem que percorrer no coração do mundo.

Também já se começa nos trabalhos a fase final para a conclusão do documento do Sínodo da Amazônia. Como estão sendo os debates agora nos pequenos círculos? Representam o que os grupos estão propondo como documento?

Os grupos estão trabalhando muito. Estão procurando corrigir aquilo que está proposto no sentido de melhorar, ampliar e de recuperar aquilo que é essencial e importante, tenha sido dito mas ainda não contemplado, de corrigir as repetições de tal modo que possamos chegar não a um tratado e livro, mas a indicações muito concretas para que nós possamos, inspirados, fazer um novo caminho missionário na Amazônia e, a partir da Amazônia, na Igreja no Brasil. E claro também com influência sobre o mundo inteiro. É um trabalho árduo, exigente, conceitual, mas sobretudo precisa estar inspirado pela força bonita do Evangelho de Jesus Cristo, de uma espiritualidade muito profunda e de um comprometimento eclesial muito definido.

O Senhor acha que o que o Papa vem denunciando a respeito do colonialismo é ideológico e que é um problema para a Igreja no Brasil como um todo e não só na Amazônia?

Em primeiro lugar, minha experiência como representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil me enriquece pela convivência espiritual, pelo clima que aqui estamos vivendo. Dá-me a oportunidade de conhecer melhor a Amazônia, o que todos nós precisamos, particularmente toda a Igreja no Brasil. Nós estamos em um caminho muito bonito, procurando novos caminhos para a Amazônia que inspirarão também novos caminhos para Igreja. Sem dúvida que nós teremos resultados muito importantes e bonitos, apontando caminhos novos que temos que percorrer.

Não estamos falando de conferência específica para a Amazônia. Estamos falando do fortalecimento de instâncias e do comprometimento de instâncias, inclusive novas, para que possamos fortalecer o nosso caminho e nosso trabalho missionário na Amazônia. Uma das coisas muito importantes é exatamente a necessidade, como lembrado, de superarmos todo tipo de colonialismo, todo tipo de tratamento inadequado de toda à Casa Comum, mas especialmente da Casa Comum que é a Amazônia por sua importância. O Sínodo vai se tornar, eu tenho certeza, para além de tudo, uma grande experiência que vai colocar a nossa Igreja no novo caminho, muito fiel aos seus princípios e valores, ao Evangelho de Jesus Cristo, às suas tradições, desdobrando tudo isso, com grande força, para que nossa Igreja possa dar conta da tarefa que nos é dada por Jesus Cristo de ir para o mundo inteiro, dar testemunho e fazer de todos seus discípulos e discípulas.